Há 20 anos… dia 1º de maio de 1994.
– Fê? Fê! Acorda, Fê! O Senna teve um acidente. Acho que foi grave!
– Ahn?! O quê? Acidente? Ah, não deve ser nada…
– Não, é sério!
– Tranquilo, Arthur, não deve ser nada. Daqui a pouco eu acordo.
Algumas horas depois:
– Fê? Fê! Acorda, filho. O Senna tá morrendo.
– O quê??!!
“O Senna tá morrendo”.
Até hoje me arrepio quando ouço essa frase surrealista, impossível, irreal, dita pela minha mãe naquele 1º de maio. Aquele 1º de maio…
Acordei quase meio-dia e caí em um pesadelo. Naquela hora, de fato, ele estava morrendo.
Meu primo viu tudo e tentou me acordar na hora do acidente. Eu já gostava de dormir até mais tarde, àquela altura, mais do que acompanhar a Fórmula 1 cedinho.
Ele também já não era mais o mesmo. Tinha mais dificuldade para vencer. Novos e bons rivais, como um tal Michael Schumacher. Aliás, no início daquela temporada, o jovem alemão botava pressão no experiente tricampeão, com vitórias nas duas primeiras corridas. Três anos depois do terceiro título, ele precisava inventar uma nova trilha da vitória. Não houve tempo. Tudo acabou na Tamburello.
Tudo acabou pouco depois que acordei. Aos 12 anos, tive o primeiro contato com a morte. Não entendi nada.
Lembro do Cabrini: “Ayrton Senna da Silva está clinicamente morto”, no Plantão da Globo. A terrível musiquinha da vinheta foi a trilha do pesadelo daquele 1º de maio.
Depois, veio a notícia definitiva: às 13h40 de Brasília, o coração de Ayrton Senna da Silva parou de bater.
Segui não entendendo nada. Perdido, mergulhado em um pesadelo. Fui “acordar” em prantos só no Fantástico.
– Chora, meu filho. Chora!
A bandeira verde da minha mãe me libertou. Pude, enfim, chorar, derrubar lágrimas, desabafar uma dor que eu mesmo, menino, não entendia. Pude, enfim, entender um pouco sobre a morte.
Morto. Senna está morto. Ainda soa surreal, impossível, irreal.
Afinal, o herói nunca morre. Como nos filmes épicos, sempre triunfa no final. Depois de tantas e tantas vitórias, nosso maior herói morreu, qual um Spartacus de Kubrick.
E o épico se tornou trágico.
Naquele 1º de maio, de maneira “exageradamente triste”, como escreveu Flavio Gomes, Senna morreu.
Foi a primeira vez que vi a morte.
Senna em seu momento mais épico, o GP Brasil de 1991:
+MAIS – tem muita coisa boa!:
Um comentário sobre “Senna”