Há 50 anos… dia 7 de fevereiro de 1964.
POR FELIPE FIGUEIREDO MELLO*
A imagem é simbólica: os Fab Four tocando no centro de um palco nos estúdios do Ed Sullivan Show, em Nova York, rodeados por várias setas apontando para si. Mais do que no centro do palco, John, Paul, George e Ringo estavam no centro do universo! Do universo da música pop, pelo menos. Música pop que acabara de ser inaugurada justamente por eles.
A primeira passagem dos Beatles pelos Estados Unidos, entre 7 e 22 de fevereiro de 1964, há 50 anos, teve ares de conquista. Para os garotos de vinte e poucos anos, fazer sucesso na América era chegar ao topo. Até então, ninguém havia logrado o primeiro lugar nas paradas americanas. O território era de Sinatra, Elvis Presley, Ray Charles, Johnny Cash, ou seja: forasteiros não eram bem-vindos em território yankee!
A estratégia do empresário Brian Epstein era, no mínimo, prudente: os Beatles só desembarcariam na América depois do primeiro “Nº1”. Na Europa, eles conseguiram emplacar “Love Me Do”, “From Me to You” e “She Loves You”. Até fevereiro de 1964, o Royal Albert Hall e o London Palladium, na capital inglesa, e o Olympia, em Paris, já eram território beatle. Nos Estados Unidos, porém, a história era outra. Nenhuma das três músicas haviam provocado alvoroço no maior mercado musical do planeta.
Foi então que “I Want to Hold Your Hand”, simbólica súplica amorosa de Lennon-McCartney, não apenas conquistou, mas arrebatou os corações norte-americanos. Já com a turnê agendada e prontos para embarcar, os meninos de Liverpool receberam de Epstein a notícia: “Parabéns, rapazes, vocês conseguiram o número 1!” Era tudo o que eles precisavam para ganhar confiança.
A América jamais seria a mesma. Os Beatles também não!
A chegada no aeroporto JFK foi épica: mais de 4000 adolescentes enlouquecidos esperando o avião do quarteto estacionar no terminal da PanAm e uma turba de jornalistas ávidos para conhecê-los. A entrevista concedida ainda no aeroporto foi o cartão de visitas. Irreverentes, relaxados (ou escondendo a natural tensão da estreia), inteligentes e diretos, eles se alternaram como porta-vozes e arrancaram gargalhadas dos entrevistadores, sem se esquivar, sem parecerem rudes ou arrogantes.
A turnê em si foi um sucesso tremendo. Ed Sullivan foi o anfitrião perfeito em seu show de variedades da TV. Generoso, elogiava cada um deles sempre que podia. Pudera! Seu coração também fora arrebatado! Os dois programas de Ed Sullivan, apresentados ao vivo em Nova York e Miami, registraram as maiores audiências da tevê americana até então (73 e 70 milhões de espectadores, respectivamente). Para se ter ideia do impacto, nenhum crime foi reportado em NY na hora do programa.
Entre os programas de televisão, os Beatles fizeram dois shows. Um em Washington, para um histérico público de 8 mil jovens, com destaque para Ringo, e outro no lendário Carnegie Hall, em Nova York. O quarteto também teve agenda cheia de atividades, entrevistas informais para a imprensa – em especial no trajeto de trem entre NY e Washington -, e aparições espontâneas na rádio para o programa do locutor Murray the K, criador da alcunha o quinto beatle, que atribuía a si. E, além disso, um curioso e histórico encontro com o não menos irreverente Cassius Clay, hoje Muhammad Ali, que conquistaria seu primeiro título mundial de boxe uma semana depois.
A despedida, no mesmo JFK, marcou o início de uma relação intensa, com altos e baixos marcantes. Entre eles, o famoso show no Shea Stadium, em 1965.
Mas essa história fica pra outro dia, porque todo dia é histórico.
* Felipe Figueiredo Mello é só mais um beatlemaníaco, gosta mais da fase romântica dos Fab Four e canta “I Want to Hold Your Hand” pra ninar a filha.
Veja cenas da chegada dos Beatles nos Estados Unidos:
Fontes:
Um comentário sobre “Os Beatles conquistam a América”