…provavelmente o mais cataclísmico, orgásmico, chocante, vibrante, abalador, agitado, arrasador, ecoante final de toda a música pop.
Onde eu assino, caro Hunter Davies?
Cataclísmico, orgásmico, chocante, vibrante, abalador, agitado, arrasador, ecoante…
Mas pode ser também catártico, libertário, pulsante, intrigante, onírico, lisérgico.
Genial.
Existem canções para se escutar com a devoção de um monge. Como uma liturgia. Uma missa. “A Day in the Life” é uma destas.
Aos primeiros acordes do violão de John, um alerta atravessa as sinapses: “Pare. Respire. Feche os olhos. Escute.”
Não é só a letra, aparentemente prosaica, banal, mas que carrega, nas entrelinhas, a nossa finitude. A morte.
Não é só a melodia, aparentemente desconexa, confusa, mas que traz elementos altamente sofisticados, do erudito, do jazz, da vanguarda de Karlheinz Stockhausen.
“It’s bloody marvellous!”, exclamava, por dentro, George Martin, enquanto regia a orquestra com mais de 40 músicos.
“Eu tive de instruí-los: ‘Nós vamos começar muito, muito silenciosamente e acabar muito, muito alto. Vamos começar muito baixo e terminar muito alto. Vocês têm de fazer o seu próprio caminho, o mais preciso possível, para que os clarinetes soem forte, os trombones preencham, os violinos deslizem sem digitar quaisquer notas. E o que quer que você faça, não ouça o companheiro próximo a você porque eu não quero que você esteja fazendo a mesma coisa. Claro que todos eles me olhavam como se eu fosse louco…”.
Se John foi o escultor lírico, coadjuvado pelos versos sagazes do intermezzo de Paul, ele foi o costureiro das duas peças, aparente e irremediavelmente incompatíveis, desconectadas.
Maravilhoso, maestro. Maravilhoso.
Antes de terminar – e você pode ler muito mais coisas sobre esse monumento musical nos links abaixo -, cabe destacar Ringo.
Que sensibilidade!
“Defina o melhor baterista do mundo. É alguém tecnicamente competente? Ou alguém que ‘senta-se’ na canção com o próprio sentimento? Ringo era o rei do sentimento!”, diz Dave Grohl, aqui.
Sim, caro Dave. Ele era. E talvez a maior prova seja “A Day in the Life”.
Mas basta de análise.
“Pare. Respire. Feche os olhos. Escute.”
Monumental.
Dica! → Clica em cima do selo para ver todos os posts do especial Sgt. Pepper’s 50!
“A Day in the Life”:
Fontes e +MAIS:
– As letras dos Beatles – A história por trás das canções, de Hunter Davies
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