Beatles lançam Revolver no Reino Unido

Há 50 anos… dia 5 de agosto de 1966.

Beatles lançam Revolver no Reino Unido

POR FELIPE FIGUEIREDO MELLO*

Um dos elementos mais fascinantes da história dos Beatles é o resultado da combinação entre sorte, competência, timing e, porque não, surrealismo! Nós, beatlemaníacos, caminhamos na Linha do Tempo da banda meio que inebriados pela quantidade de fatos que nos escapam à compreensão, pelos sons que desacreditamos serem coincidências, por imagens lisérgicas que se desmancham nas pupilas.

Nós procuramos sentido. E quase sempre repousamos nossas certezas sobre a corda bamba da dúvida.

No caso deste que escreve, o ponto de partida de qualquer compreensão é a obra-prima Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, álbum de 1967. É do topo deste Monte Everest da cultura ocidental que tento compreender o que existe abaixo! Mas não é deste disco que celebramos hoje.

O álbum de 1966, Revolver, é o escolhido do dia por completar cinquenta anos de existência!

E já começamos perdidos por duvidar dos múltiplos significados deste álbum e o do ano anterior, Rubber Soul: será que eles, os quatro, sabiam que estes dois meros bolachões de 1965 e 1966 seriam, pura e simplesmente, os alicerces daquele Everest? Que seriam a base de suas histórias e não apenas o ponto de inflexão de suas carreiras, mas do rock e da cultura pop?

O quarteto era (sempre foi!) um ponto muito fora da curva no quesito inteligência e capacidade de compreender tudo o que os rodeava. Podemos citar 50 exemplos disso, mas ficamos apenas no sarcasmo de John diante da Rainha, no primeiro show da banda para a corte britânica: “For the people on the cheaper seats, clap your hands. And the rest of you just rattle your jewelry.”

Eis o X da questão: eles sabiam a magnitude do que construíam? Não foi só acaso. Não foi só competência, tampouco sorte. Não foi apenas surrealismo.

Mas vamos ao aniversariante do dia! É ponto pacífico, até mesmo entre o quarteto, que Revolver e seu predecessor Rubber Soul são espécies de disco 1 e 2 de um mesmo conceito. Ambos foram produzidos sob as mesmas condições: uma banda cansada do furacão das turnês e disposta a trabalhar mais no estúdio; jovens inquietos, questionadores e de mente aberta para novas experiências; e, finalmente, um empresário visionário e um produtor musical de mente (ainda mais) aberta e encorajadora do quarteto de garotos.

O que diferencia este Revolver daquele Rubber Soul é, talvez, a profundidade das letras e melodias e, certamente, as horas trabalhadas na produção do álbum. Enquanto o disco de 1965 levou 100 horas de estúdio para ficar pronto, Revolver foi produzido ao longo de mais de 300 horas de gravações. Imagine só, caro leitor, o que quatro sujeitos como John, Paul, George e Ringo podem produzir ao lado de George Martin em 300 horas de trabalho!

Para saber o resultado, tem que ouvir! Mas apenas para ficar em poucas menções: “Here, There and Everywhere” não é apenas uma das canções de amor mais lindas de McCartney. É uma das canções mais lindas e ponto. “Yellow Submarine”, na voz de um infantil e desajeitado Ringo, é aquela música que você sabe de cor porque cresceu cantando e faz questão de ensinar pros filhos, que farão o mesmo com seus netos! “Love You To” e “Taxman” são Harrison mostrando que chegava ao patamar Lennon/McCartney de um jeito muito particular.

“Tomorrow Never Knows” é Lennon antecipando a liberdade das drogas da virada da década, fazendo uma releitura do mote “Turn on, tune in and drop out” de Timothy Leary, o neurocientista e guru do LSD. Como conjunto, não há nada mais encantador que a harmonia vocal de “And Your Bird Can Sing” e “I Want To Tell You”.

Por fim, se Rubber Soul era resultado da versatilidade e flexibilidade da banda materializada no som e na capa do álbum, em Revolver eles decidiram reler, rasgar, romper e recolar tudo aquilo que sabiam. O nome remete ao movimento de rotação, que revira tudo o que há. E não é à toa a quantidade de overdubs, colagens sonoras e reversões presentes nas músicas. O engenheiro de som da Apple, Geoff Emerick, conta que todas as faixas, sem exceção, foram testadas de frente pra trás e de trás para frente, para que eles escolhessem a melhor forma de encaixar no disco.

Também não foi à toa a capa produzida pelo velho amigo de Hamburgo, Klaus Voorman. Uma arte de desenho e colagens de fotos novas e antigas, cheia de significados. Até o preto-e-branco tinha explicação: com a plena difusão das imagens em cores nas capas dos discos, o preto-e-branco era ir na contramão do tempo e se destacar. Como se fosse necessário, naquela altura do campeonato, distinguir um disco dos Beatles!

De fato, não foi só o acaso!

* Felipe Figueiredo Mello é apenas mais um que repousa sobre a corda bamba das dúvidas!

Trechos de takes de Revolver:

“Tomorrow Never Knows” em Mad Men:

Fontes e +MAIS:

– Wikipedia

– thebeatles.com

– usatoday.com

– ultimateclassicrock.com

– liverpoolecho.co.uk

– matias.blogosfera.uol.com.br

– nme.com

– jc.ne10.uol.com.br

– observador.pt

– blitz.sapo.pt

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4 comentários sobre “Beatles lançam Revolver no Reino Unido

  1. eu sou um dos sortudos que viveu aquele tempo/aquelas/horas/aqueles discos, aquela banda (conjunto) e o começo de tudo que hoje é o reflexo daquilo.

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