Há 40 anos… dia 9 de abril de 1976.
POR RODRIGO MELLO*
Deep Throat: Follow the money.
Bob Woodward: What do you mean? Where?
Deep Throat: Oh, I can’t tell you that.
Bob Woodward: But you could tell me that.
Deep Throat: No, I have to do this my way. You tell me what you know, and I’ll confirm. I’ll keep you in the right direction if I can, but that’s all. Just… follow the money.
Deep Throat: Siga o dinheiro.
Bob Woodward: O que você está querendo dizer?
Deep Throat: Ah, isso eu não posso te dizer.
Bob Woodward: Mas você poderia me dizer.
Deep Throat: Não, eu tenho que fazer isso do meu jeito. Diga-me o que sabe, e eu confirmarei. Manterei você no caminho certo se puder, mas isso é tudo. Apenas… siga o dinheiro.
“Siga o dinheiro”. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Nos bastidores de um dos maiores escândalos da História dos Estados Unidos, dois repórteres puxam a ponta de um fio, e descobrem que estão diante de um enorme e escandaloso novelo. Com coragem, no limite da irresponsabilidade, desvelam para uma sociedade incrédula o lado negro da política americana.
“Todos os Homens do Presidente”, filme de 1979, e que completa hoje 40 anos de seu lançamento oficial, foi um filme à altura dos eventos que retratou.
Dirigido por Alan J. Pakula (de “O Sol é Para Todos”), o longa estrela os então já enormes Robert Redford e Dustin Hoffman nos papéis dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post.
O roteiro passou pelo filtro dos personagens reais da história, os jornalistas do Post, o que garantiu enorme verossimilhança ao enredo.
É um filme sobre jornalismo investigativo, assim como o recente e premiado “Spotlight”. Seu ritmo é vertiginoso! Mesmo sendo uma película de diálogos, e mesmo que já se saiba o final de antemão (a renúncia do presidente Nixon), mantém o espectador preso na poltrona até o fim.
A química entre os jornalistas – e entre a dupla e a direção do jornal (uma salva de palmas para o ator Jason Robards, que representa brilhantemente o papel do mítico editor-executivo do Post, Ben Bradlee) – é perfeita. Coloca o espetador nas entranhas do processo decisório que levou o jornal a bancar, correndo todos os riscos, a história de espionagem e abuso de poder conhecida como Watergate, e que terminaria por levar o presidente Nixon a deixar a Casa Branca.
Referência obrigatória em qualquer curso de jornalismo, o filme retrata a delicada relação entre um jornalista e sua fonte – o escândalo do Watergate talvez não fosse revelado sem a colaboração de “Deep Throat” (“Garganta Profunda”, em português”), o informante do jovem Bob Woodward. (Em 2006, furo da revista Vanity Fair revelou a identidade do informante: Mark Felt, diretor do FBI à época do escândalo).
O Watergate sacudiu Washington, escancarando a importância da liberdade de imprensa como um dos pilares da democracia. O ambivalente Nixon deixou a Casa Branca pela porta dos fundos, enxotado por uma sociedade escandalizada – ainda que o tempo e a distância tenham relativizado – para melhor – seu legado.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Rodrigo Mello é professor e psicólogo, e acha que o cinema brasileiro ainda nos deve um filme sobre a queda de Fernando Collor.
Trailer do filme:
Fontes e +MAIS:
– IMDb