Há 1 ano… dia 19 de dezembro de 2014.
Brasil no topo do surfe
POR FERNANDO GUEIROS*
O Brasil viveu seu ponto mais alto na história do surfe há exatamente um ano, quando Gabriel Medina foi campeão do mundo e trouxe o caneco pela primeira vez para o Brasil.
O campeonato mundial existe, no formato parecido com o que conhecemos atualmente, desde meados dos anos 1970, quando americanos, havaianos e australianos dominavam o cenário de um esporte que – para muitos – não é simplesmente uma atividade física, mas sim um vício maravilhoso e um passatempo pra lá de perigoso.
O número de brasileiros radicados no Havaí aumentou ano após ano desde os anos 1970. Ganhamos relevância nas águas aos poucos e vimos o esporte se profissionalizar no País, especialmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Tivemos gerações de atletas que marcaram época, de Pepê Lopes nos anos 1970 a Fábio Gouveia na década 1990. Conhecemos Ricardo Bocão, Teco Padaratz, Peterson Rosa e companhia. Sempre sem deixar de fazer uma ou outra piadinha sobre “maconha”, “desbunde”, “burrice” ou “vagabundagem”. Um estereótipo que, hoje, não significa nada.
Nos anos 2000, o atleta de surfe passa longe do baseado ou do marasmo de rodinhas de violão na areia. Quem é surfista profissional é atleta de verdade, com preparo técnico, físico e psicológico de ponta. O esporte gira dinheiro, tem milhões de fãs e ganhou o respeito do mundo. No Brasil, uma geração que cresceu embalada pelo boom do consumo da classe C, pelo avanço tecnológico dos equipamentos de surfe e pelo dólar um pra um – o que facilitou a viagem para ondas de nível internacional em lugares como Havaí, Austrália e Indonésia – fez a História mudar totalmente. Essa geração ficou conhecida como Brazilian Storm, teve como precursor o surfista Adriano de Souza, o Mineirinho, do Guarujá, hoje com 28 anos; e Gabriel Medina, 21, surfista de Maresias.
A Brazilian Storm causou frisson no mundo do surfe e viu sua maior coroação em dezembro do ano passado, quando Medina, após temporada impecável, na qual fez tudo o que nenhum brasileiro tinha feito: venceu etapas de ondas grandes – até então, tidas como o “desafio impossível” para brasileiros –, conquistou fãs no mundo com carisma e atitude e mostrou que o Brasil criou, finalmente, um surfista de primeira linha, preparado, educado, ousado e com muita energia para virar de cabeça para baixo a ordem mundial do surfe.
Em Pipeline, no Havaí, o garoto de Maresias jogou bem e mostrou surfe de altíssimo nível para conquistar, pela primeira vez na história, um título mundial de surfe para o Brasil. A linha que ele escreveu é só a primeira de um livro muito grande que está sendo feito. Medina ainda tem, pelo menos, mais 10 anos competindo em alto nível – e com certeza muitas outras glórias virão.
Bom, já vieram…
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Fernando Gueiros é jornalista e surfista. Trabalhou como editor chefe da revista especializada Hardcore entre 2011 e 2013 e na Red Bull até o final deste ano.
Gabriel Medina campeão:
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