Há 95 anos… dia 3 de agosto de 1920.
Beverloo, Bélgica, 3 de agosto de 1920.
Em área descampada vizinha a Waterloo, o emblemático lugar onde o exército de Napoleão Bonaparte foi derrotado por ingleses e prussianos, um brasileiro de Belém do Pará escreveu a História.
Foi ali, naquele dia, há exatos 95 anos, que Guilherme Paraense derrotou o americano Raymond Bracken por apenas 2 pontos, na prova de pistola de tiro rápido, e conquistou o 1º ouro olímpico do Brasil.
Uma verdadeira odisseia, digna de cinema, com drama, percalços, reviravoltas e muita emoção.
Tudo começou em 1ª de julho, quando Paraense e outros 20 atletas de diversas modalidades embarcaram no navio Curvelo rumo à Bélgica. Seria a primeira participação do País em Olimpíadas. Apesar de representados pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), todos tiveram de bancar a viagem e as despesas.
No navio, as condições eram péssimas: 3ª classe, pouco espaço, comida ruim… E os representantes do tiro ainda treinaram durante a viagem! Sim, eles praticavam no convés do Curvelo. Além de Guilherme Paraense, a equipe tinha Afrânio Antônio da Costa, Sebastião Wolf, Fernando Soledade, Mário Machado Maurity, Demerval Peixoto e Mário Barbosa.
Apesar das péssimas circunstâncias da jornada, tudo caminhava bem. Porém…
Ao chegaram à Ilha da Madeira, em Portugal, os competidores do tiro ficaram sabendo que aportariam na Antuérpia no dia 5 de agosto, já com as disputas da modalidade em andamento. Então, os sete atletas deixaram o Curvelo em Lisboa e pegaram um trem para a cidade-sede dos Jogos.
Após mais uma viagem desgastante, em vagão aberto, com exposição ao sol, vento e chuva, chegaram à Antuérpia. Na alfândega, mais um obstáculo: sem se convencerem de que se tratavam de atletas olímpicos, os policiais belgas confiscaram as armas e a munição dos brasileiros. Um revólver calibre 38 e 200 balas foi tudo o que restou da apreensão.
Bom, ao menos eles chegaram, certo? Não! Ainda restava chegar à Baverloo, onde aconteceriam as disputas do tiro na Olimpíada de 1920. Os bravos atiradores caminharam 18 km para, finalmente, atingirem o local das competições.
Na chegada, a ingrata saga da delegação sensibilizou alguns dos americanos, que ficaram amigos de Afrânio Costa. As novas amizades renderam duas armas, 2 mil cartuchos e 50 alvos para os brasileiros. Agora, o País podia competir.
No dia 2, Sebastião Wolf, Dario Barbosa, Guilherme Paraense e Afrânio Costa garantiram o bronze na prova por equipes. Foi a primeira medalha do Brasil em Jogos Olímpicos. No mesmo dia, Costa ainda conseguiu prata na prova individual dos 50m de pistola livre.
Em 3 de agosto, Guilherme Paraense levou o País ao lugar mais alto do pódio. Anotou 274 pontos de 300 possíveis, ficou dois pontos à frente de Raymond Bracken, um dos novos amigos de Costa, e levou a medalha de ouro. Os americanos chegaram a chiar com a organização, mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) manteve o resultado.
Assim, após uma trama fantástica, Guilherme Paraense entrou para a História do esporte brasileiro. Somente 32 anos depois o País conseguiria uma nova medalha de ouro, com Adhemar Ferreira da Silva, em Helsinque, na Finlândia.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Veja o curta “Ouro Prata Bronze e Chumbo!”:
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