Uma semana depois, o telefone tocou. “Alô, quem fala?” “É o Carlos Lyra”, respondeu. “Ah, parceirinho… Pode vir que as tuas letrinhas estão prontas.” Lyra descobriu ali o primeiro atributo do poeta: o modo de adocicar o mundo reduzindo todas as palavras a seus diminutivos. Tornou-se o “parceirinho” para o resto da vida.
A parceria entre Vinicius de Moraes e Carlinhos Lyra durou cinco anos.
Entre 1958 e 1963, ele foi o “parceirinho 100%, que une ação ao sentimento e ao pensamento”, como bem definiu o poeta em “Samba da benção”. Por conta do golpe militar de 1964, Carlinhos deixou o Brasil e só foi reencontrar Vinicius em meados dos anos 1970.
Da união nasceram canções políticas, como o “Hino da UNE”, a União Nacional dos Estudantes, e a linda “Marcha de quarta-feira de cinzas”. Músicas de protesto que foram um prenúncio do triste período que viveria o País em seguida.
Político também foi o musical “Pobre Menina Rica”, que estreou na boate Au Bon Gourmet, no Rio, com Carlinhos Lyra e Nara Leão interpretando as canções. Ainda ficou em cartaz em outras casas da Cidade Maravilhosa, mas não chegou a ser encenado como peça.
Mais do que tudo, a parceria Vinicius & Lyra pode ser definida em uma palavra: melancolia.
Para José Castello, Carlinhos Lyra foi o parceiro que melhor soube enxergar a tristeza em Vinicius. A tristeza que tem sempre a esperança de um dia não ser mais triste, não, como sempre respondia o poeta quando o parceiro perguntava de onde vinha a coragem de Vina. Frase que virou verso em “Samba da bênção”.
A aliança da melancolia de Vinicius com a ação, sentimento e pensamento de Carlinhos rendeu versos e acordes de uma beleza redentora, mas, paradoxalmente, triste.
Como na melhor canção da parceria, “Minha namorada”:
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste pra você
Fontes:
– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello