Há 35 anos… dia 18 de julho de 1980.
POR PAULO SENE*
Room in silence… don’t walk away…
Nem me lembro quando foi a primeira vez que ouvi Joy Division. Acho que foi por volta de 1988, em uma coletânea emprestada pelo irmão mais velho de um amigo do colégio. Na mesma hora fiquei impressionado com a crueza e concisão da música e, principalmente, das letras.
O clima de vida real – talvez por influência de onde vieram, Manchester, cidade industrial e, por conseqüência, cinza -, trazia uma atmosfera similar e de adolescência: dúvidas e incertezas, falta de rumo, amigos que partiam… Solidão.
Essa foi apenas a introdução ao universo sombrio de Ian Curtis. Não um sombrio sobrenatural, mas bem real, e, por isso mesmo, mais aterrorizante. Talvez por sua doença (epilepsia) e pelas drogas que tinha que tomar para domar a fera que habitava sua cabeça, originando seus demônios, que mais tarde o levariam ao suicídio, aos 23 anos de idade.
Toda essa urgência foi inspiração pra muitos jovens que abraçaram Ian, dando lugar especial em seus corações e em vários movimentos/tribos (darks nos anos 1980 e, posteriormente, góticos e outros sub-sub gêneros).
Bem, depois da introdução ao mundo de Ian, fui conhecendo a fundo a curta obra da banda, dois LPs e inúmeros singles, e cada vez fui me identificando mais com a postura anti-pop deles. Os maiores sucessos, “Love Will Tear Us Apart”, “Transmission” e “Atmosphere”, simplesmente não estão em nenhum dos dois discos. As imagens em vídeo são muito raras e bastante precárias, algumas disponíveis apenas em super 8 ou 16 mm.
Toda essa dificuldade e raridade em ter material do JD o torna uma banda cult. A precoce partida do cérebro e alma da banda dá uma aura de “religiosidade” ao grupo. Exatamente há 35 anos – post mortem de Ian Curtis -, eles lançariam o segundo disco, Closer. Uma capa com a foto de um túmulo já havia sido definida antes do ato fatídico de Ian.
São apenas 9 músicas, que trazem todo o minimalismo já presente no primeiro deles, Unknown Pleasures. O pós-punk de batidas repetitivas e cruas está bem representado em faixas como “Atrocity Exhibition”, “Colony” e “A Means to na End”, trazendo também o clima de não-futuro, herdado do punk, tão influente no início da carreira da banda.
A parte mais dançante do disco está apenas em “Isolation” e “Heart and Soul”, ambas bastante regravadas e por bandas “antenadas”, como o Killers. Aliás, a linha de baixo de Peter Hook e a guitarra de Bernard Sumner são uma espécie de embrião do que viria a ser o disco Power, Corruption & Lies, terceiro disco do New Order, banda dos remanescentes do JD.
Voltando a Closer, o disco fecha com a trinca “Twenty Four Hours”, “The Eternal” (lenta e triste, como uma tarde de sábado chuvosa) e “Decades”, com teclados synthpop hipnotizantes. Um resumo da mensagem que o Joy Division nos deixou: Permanência/movimento, claro/escuro, branco/preto, amor/ódio…
Parece que existe uma dicotomia sempre presente, quase uma coisa zen. Às vezes, ouvir essas músicas parece um ritual, uma prece, uma cerimônia, algo formal. Não apenas diversão, mas algo sério, formal. Um compromisso.
* Paulo Sene, fã de pré, pós e punk, fotógrafo nas horas vagas e viciado em bicicleta.
Ouça Closer:
+MAIS:
Olá, caro Luiz!
Muito obrigado. O texto é do Paulo Sene!
Vou passar o elogio a ele.
Abraço,
Fernando.
Umas das melhores resenhas que já li em toda a minha vida, sobre ou qualquer outro disco. Joy Division é um mantra para mim.