Há 30 anos… dia 7 de junho de 1985.
POR RICARDO LAGANARO*
Ai, ai… nada como ter oito anos de idade e ver tranquilamente na sala de casa, com toda sua família, um moleque de 10 anos fazendo piadocas sapecas com crack, heroína, speed e cocaína, além de sexo com a mãe do amiguinho, não é?
Pois é, meus caros. Se teve uma década que conseguiu misturar inocência e tudo o quê é tido como errado com perfeita maestria, foi a década de 80. Pra quem acha que estou exagerando, é só lembrar da embalagem do Cigarrinhos de Chocolate da Pan, com duas crianças “fumando”.
E foi – felizmente! – nesse contexto que “Os Goonies” entrou em cartaz. Os verdadeiros Gonnies eram : Mikey (o bom garoto), Gordo (bem … o gordo engraçado, né?), Bocão (o falastrão sacana) e o Dado (o geek japa com carisma digno de um mini Jackie Chan); pra completar a história, Brand, o irmão mais velho bonitão, duas garotas pra dar uma pitada de romance adolescente, uma família de bandidos italianos e um gigante limítrofe deformado com alma de herói.
Pra quem não viu, imagine essa turma toda presa numa caverna misteriosa: os Goonies procurando um tesouro pirata pra tentar salvar a hipoteca dos pais do bom garoto. O irmão mais velho caindo lá por acidente, mas curtindo a ideia ao se ver preso com a menina que estava prestes a beijar pela primeira vez. A coitada da amiga indo pra roubada junto, porque é assim que as meninas faziam naquela época. Os bandidos querendo pegar os moleques. E o gigante gentil, que virou o melhor amigo do Gordo após dividirem uma barra de chocolate, salvando o dia.
Bom… Não sei se é porque eu fui criança exatamente nessa época, mas o fato é que “Os Goonies” é genial e está, sem dúvida nenhuma, entre os grandes clássicos infanto-juvenis de todos os tempos. Atemporal como todo clássico, tem uma edição e um ritmo de aventura esperto e bom de ver até hoje, um timing de comédia-sacana-pseudo-inocente eternamente maravilhoso, e acaba ficando datado apenas em pequenos momentos, como quando a Cindy Lauper aparece cantando dentro de uma TV de tubo, além de alguns figurinos e penteados.
Mas o que importam mesmo são as passagens antológicas, como quando os bandidos pegam o Gordo (que ficou pra trás, é claro) e, sob ameaça de cortar seus dedos, obrigam-no a contar tudo sobre o paradeiro dos outros amigos. Ele, deliciosamente desesperado, responde: “Tudo mesmo? Ok! Na terceira série eu colei na prova de história…” e vai falando tudo de errado que fez na vida.
Às vezes, fico me perguntando se realmente essa foi a década de ouro do gênero, ou eu que estou ficando velho e já peguei a síndrome do “Na minha época…!”. Mas não dá pra desconsiderar que nesses anos foram produzidos “Os Goonies”, “E.T.”, “Gremlins”, “História Sem Fim”, “Karate Kid”, “Labirinto”, “Querida, Encolhi as Crianças”, culminando em “Esqueceram de Mim”. E, se aumentarmos um pouquinho a idade dos protagonistas, chegamos em todos os clássicos adolescentes, como “Clube dos Cinco”, “A Garota de Rosa-Shocking”, “Mulher Nota Mil”, “Curtindo a Vida Adoidado”, “Namorada de Aluguel”, “Sem Licença Para Dirigir”, “Te Pego Lá Fora” e por aí vai …
Não dá pra desconsiderar que a geração responsável pela maioria destes filmes tinha jovens cineastas como Steven Spielberg, Chris Columbus, John Hughes e cia.. Mas além dessa turma da pesada, minha tese de mesa de bar é que saíram tantos filmes bons nesse universo, porque os anos 1980 foram os primeiros a terem o despudor de colocar crianças e adolescentes realmente fazendo piadas que os adultos fariam, mas ainda sem o cuidado que se teve depois da década de 1990, sobre a temática e o “politicamente correto”.
Claro que hoje existem outras formas até mais “corretas” de se fazer humor para jovens. Mas, olha, como esses ingredientes davam um caldo bom de se ver! Nunca vou me esquecer da cena no “Apertem os Cintos! O Piloto Sumiu” em que o comandante do avião faz, rapidamente, uma série de perguntas inocentes para um menino que visita a cabine, encerrando com a pérola: “Você já viu um homem nu?”. Em que outra época essa atrocidade seria possível, sem ferir ninguém, se não nos maravilhosos anos 1980, não é mesmo?
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Ricardo Laganaro é diretor e escreve crônicas de vez em quando no www.cronistasreunidos.com.br .
Trailer de “Os Goonies”:
Fontes e +MAIS:
– IMDb