Há 25 anos… dia 9 de novembro de 1989.
POR NETA MELLO*
Vinte e cinco anos se passaram do 9 de novembro de 1989.
O mundo parou para ver, ao vivo pela TV, alemães de Berlim Ocidental e Berlim Oriental sobre o muro na frente do Portão de Brandemburgo. Picaretas e pedaços de metal nas mãos para destruir o símbolo da Guerra Fria.
Um pouco de História. 1945. Fim da 2a Guerra. A Alemanha derrotada de Hitler se rende. Pelo pacto entre as nações aliadas – Grã Bretanha, França, Estados Unidos e União Soviética – a Alemanha seria dividida, e foi, em quatro áreas de influência. Uma sob o controle de cada um desses países. O país foi ocupado por bases militares e soldados, dura prova da derrota nazista. Para ter certeza de que não repetiria desmandos como os de Hitler.
Além disso, a capital Berlim, incrustada na Alemanha Oriental sob domínio da União Soviética, também foi subdividida em quatro áreas. Confuso, não é? Uma nova geopolítica para o mundo pós-guerra numa Europa economicamente destruída com mais de 20 milhões de mortos. Um recomeço difícil para os sobreviventes.
O mundo bipolar – parte capitalista, sob influência dos Estados Unidos, parte socialista, sob influência da União Soviética – foi a marca da segunda metade do século XX.
Em 1948, o marco foi adotado como moeda e cada cidadão da parte ocidental recebeu 40. Isso não agradou a União Soviética, que reagiu com o bloqueio de Berlim por terra e por rios (lembrando que a cidade ficava cravada na Alemanha Oriental). Foi uma das primeiras crises da Guerra Fria. Durante um ano, a cidade foi abastecida por aviões americanos, ingleses, franceses. Alimentos, roupas, remédios, tudo que a população necessitasse.
Em 1949, foi criada a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), formada pelos países capitalistas. Em 1955, o Pacto de Varsóvia, bloco formado pelos países socialistas. As duas organizações representavam o mundo dividido.
Na ilha de Cuba, Fidel Castro havia feito a Revolução Socialista, o que representava uma ameaça para o vizinho Estados Unidos. Um exemplo para as demais nações da América Latina.
Até 1961, os moradores de Berlim Ocidental e Oriental podiam ir de um lado a outro, passando por determinados pontos, os checkpoints, onde mostravam documentos. O mais famoso, na zona americana foi o Checkpoint Charlie. Muita gente morava de um lado e trabalhava do outro. Foram dezesseis anos de certa liberdade.
No mesmo ano, houve um acirramento de ânimos entre Estados Unidos e União Soviética. De um lado, o presidente John Kennedy, que encantava o mundo com seu charme, do outro Nikita Kruschev, que havia assumido o poder numa União Soviética pós-Stalin. A cada dia mais cidadãos de Berlim Oriental fugiam para o lado ocidental.
Numa articulação secretíssima, Kruschev mandou erguer, em uma noite, um muro dividindo Berlim, com o apoio do chefe de Estado da RDA (República Democrática Alemã), Walter Ulbricht.
13 de agosto de 1961. Cruzetas de madeira enormes, centenas de rolos de arame, malhas de aço e blocos de concreto.
Muitos moradores acharam que era algo passageiro, alguns tentaram atravessar pelos pontos de checagem, mas foram impedidos. Quatro metros de altura e mais de 140 quilômetros de extensão entremeado por altas torres de controle e luzes de segurança. O muro enterrado mais de dois metros abaixo do solo impedia possíveis túneis de fuga. Cercas eletrificadas, tanques soviéticos, policiamento 24 horas com cães treinados.
Como poderia ser verdade o isolamento completo entre os dois lados de uma mesma cidade? República Federal da Alemanha, a capitalista, e República Democrática Alemã, a socialista, totalmente separadas. Nesse dia fatídico, famílias foram separadas da noite para o dia. Maridos e mulheres, pais e filhos, avós e netos que nunca mais se encontraram. O prefeito de Berlim Ocidental, Willy Brandt, condenou a segregação provocada pelo muro.
Nos trinta anos de existência, muitos morreram tentado fugir para o lado ocidental. Na Berlim atual, pode-se ver em diversos pontos 1065 cruzes de madeira ou concreto, algumas com fotos dos que morreram na escapada. Pode-se ver também linhas de paralelepípedos demarcando o antigo muro.
Na RDA, um forte esquema de censura perseguia qualquer pessoa que agisse ou pensasse contra o sistema. A polícia secreta Stasi implantou escutas em todos os lugares considerados “capitalistas”. Muitos cidadãos acusavam vizinhos e mesmo parentes suspeitos de colaborar com o Ocidente. As prisões implicavam em longos interrogatórios, torturas, morte e desaparecimento de muita gente. Livros, peças de teatro, filmes ou qualquer manifestação artística podiam ser censuradas e seus autores presos.
A partir de 1985 o líder soviético Mikhail Gorbachev deu início a um processo de abertura econômica, a perestroika, e política, a glasnost. Em vários países do bloco pipocavam manifestações populares.
Na Alemanha, essas manifestações já ocorriam nas igrejas. Padres católicos e pastores protestantes permitiam reuniões para discutir mudanças do regime e o fim das perseguições ideológicas.
Na cidade de Leipzig, por exemplo, a Stasi recebeu ordens para não usar violência contra os manifestantes que lotavam não só a igreja como todo o centro da cidade. Pais colocaram filhos pequenos nos ombros e todos caminhavam cantando e carregando velas acesas numa passeata pacífica. Isso se espalhou por toda a Alemanha Oriental durante o ano de 1989.
Em novembro, boatos de que a RDA abriria os pontos de checagem provocaram aglomerações gigantescas. Moradores entraram em filas com documentos pedindo passagem. Os soldados orientais, sem receber nenhuma ordem, deixaram o povo passar.
Pais e filhos, avós e netos, e milhares de pessoas começaram a destruir o muro.
Foi o fim de uma era para o mundo e para a reunificação das duas Alemanhas.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Neta Mello, 60 anos, é historiadora e escritora. Tem quatro livros publicados e escreve no Blog da Neta. Em tempo: esteve em Berlim recentemente, visitou o Memorial do Muro e registrou o clima da cidade (últimas fotos do post).
Memória Globo sobre a queda do Muro de Berlim:
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