Nasce O Amigo da Onça

Há 70 anos… dia 23 de outubro de 1943.

23out13

“Dois caçadores conversam em seu acampamento:

— O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente?

— Ora, dava um tiro nela.

— Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo?

— Bom, então eu matava ela com meu facão.

— E se você estivesse sem o facão?

— Apanhava um pedaço de pau.

— E se não tivesse nenhum pedaço de pau?

— Subiria na árvore mais próxima!

— E se não tivesse nenhuma árvore?

— Sairia correndo.

— E se você estivesse paralisado pelo medo?

Então, o outro, já irritado, retruca:

— Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?”

Foi de uma conhecida anedota que o cartunista Péricles criou um dos mais famosos personagens de quadrinhos do Brasil, O Amigo da Onça. No dia 23 de outubro de 1943, foi publicado o primeiro cartum, na saudosa revista O Cruzeiro. Péricles não sabia, mas criava, também, uma expressão que virou cotidianamente usada no Brasil.

Irônico, sarcástico, politicamente incorreto, crítico social, aquele baixinho de cabelo pra trás, bigodinho curto, cigarrinho com piteira à mão e olhar perdido barbarizava tudo e todos. É engraçado e atual até hoje.

O pernambucano Péricles de Andrade Maranhão já tinha nome no meio do cartum quando criou seu mais famoso personagem. Vindo do Recife para o Rio de Janeiro aos 17 anos, participou de revistas como O Guri e A Cigarra.

Mas nada se compara ao sucesso alcançado com O Amigo da Onça, segundo números, a seção mais lida de O Cruzeiro. O personagem apareceu na revista até fevereiro de 1962, meses após o suicídio de Péricles.

A criatura engoliu o criador. O sucesso avassalador do personagem fez com que Péricles o odiasse. A repetida lembrança como “O criador do Amigo da Onça” e a solidão do Rio de Janeiro, longe da mãe e da irmã, levaram o cartunista ao limite.

Em 31 de dezembro de 1961, na noite da virada do ano, Péricles vedou todo o apartamento em Copacabana, ligou o gás e se foi. Deixou um bilhete justificando seu ato e um recado na porta: “Não risquem fósforos”. No gesto final, o criador engoliu e se apropriou da criatura de volta.

Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.

“O Amigo da Onça” (1946), de Henrique Gonçalves, na voz do sambista Moreira da Silva:

Fontes:

2 comentários sobre “Nasce O Amigo da Onça

  1. Eu fico muito feliz quando as pessoas como tu citam as fontes e colocam links pra elas. Se a internet fosse toda assim, daí teríamos de fato o “mundo conectado”.
    Parabéns pelo blog e pela ética
    Abraço!

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