Tom Jobim apresentou a estrada viva e pulsante da música para Vinicius.
Com Carlinhos Lyra, o poeta mergulhou em sua melancolia e explorou outros caminhos e possibilidades.
Baden Powell foi algo completamente novo e diferente.
Foi uma estrada desconhecida, encantadora, a qual o poeta trilhou sem medo, de peito aberto.
Foi uma força energética espiritual, ancestral, primitiva, absorvida por Vinicius como uma água benta. Ou um copo de whisky!
Foi a África, o samba, o subúrbio, o candomblé.
Com um talento tão extraordinário quanto contido, Baden arrebatou Vinicius.
Ao poeta, caberia a missão de traduzi-lo.
Sensível, em vez de decifrá-lo, Vinicius preferiu se despir e se entregar por completo rumo ao misterioso.
Na dessemelhança, elevou o espírito ao mundo das sensações.
Com a palavra, José Castello:
Vinicius se apaixonou pelo que não tinha. Vigorou, do início ao fim, a ignorância, e não a sabedoria. Mas a divergência foi fundamental. Baden e Vinicius viveram uma daquelas amizades viris meio raras hoje em dia, em que os dois lados não temem a doçura porque ela não os ameaça, mas os engrandece. Vinicius nunca teve medo de dizer que, para ele, Baden era uma pergunta a ser domesticada, e não respondida.
Vinicius & Baden são responsáveis pelo verdadeiro mergulho nas raízes negras e africanas de nossa música. Resultado da profunda incursão da dupla no candomblé, na capoeira e na África, Os Afro-sambas, de 1966, é álbum fundamental na história da cultura brasileira.
Como se escolhidos por uma força maior ou encantados por um feitiço de terreiro, levaram a missão tão a sério que se trancaram por três meses no apartamento de Vinicius, sem ver a luz do dia, até que tudo estivesse pronto.
Do retiro quase espiritual, regado a centenas de garrafas de whisky, nasceram versos e acordes mágicos.
A tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não – “Samba da Bênção”
Ah, que não seja meu/O mundo onde o amor morreu – “Samba do Veloso”
Fico com o mais representativo dos afro-sambas, “Canto de Ossanha”:
Fontes:
– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello
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