Um tinha 43 anos, era um poeta em crise de identidade, à procura de um caminho.
O outro tinha 29 anos, era um pianista de certa reputação na noite, mas também em busca de um caminho.
O encontro do já experiente Vinicius de Moraes com o novato Antonio Carlos Jobim modificaria para sempre a vida dos dois. E os rumos da Música Popular Brasileira.
Vinicius estava à caça de alguém para musicar a peça “Orfeu da Conceição”, que ele acabara de escrever. Vadico, parceiro de Noel Rosa e pianista de Carmen Miranda nos EUA, havia declinado o convite do poetinha.
No Bar Vilarinho, em companhia dos amigos Lúcio Rangel e Haroldo Costa, conta de sua busca. Rangel, então, aponta para um rapaz sentado em mesa vizinha, que tinha conhecido recentemente, pelo amigo Sérgio Porto. Vinicius lembra vagamente do mancebo, talvez de noitadas no Clube da Chave, em Copacabana, anos antes. Também se recorda que o amigo Paulinho Soledade já havia lhe falado sobre aquele talentoso pianista.
Dias depois, o encontro.
“Você aceita musicar minha peça?”, indaga o poeta, ao final da explicação sobre o projeto de “Orfeu”. “Tem um dinheirinho nisso?”, responde, tímido, o jovem pianista, que não tinha grana nem para degustar um whiskynho enquanto trabalhava nas intermináveis noites de música na Zona Sul.
Nascia Vinicius & Tom, Tom & Vinicius.
Quinze dias depois, a dupla havia praticamente terminado a trilha da peça. Do primeiro encontro, a primeira “filha” é a maravilhosa e (hoje) histórica “Se todos fossem iguais a você”.
Tudo mudaria para Vinicius. Tom o tira de um mundo reservado da poesia e o coloca na estrada viva e pulsante da música. Em contrapartida, Vinicius carrega Tom para um mundo de magia, de lirismo e dos sentimentos.
“Tudo o que pensam é dito. Desde o início, os protocolos e as poses cedem lugar à clareza (às vezes dura, quase sempre saudável) e à franqueza viril. Vinicius se renova com essa relação sem pompas e sem pruridos. Chega a si mesmo”, conta José Castello na biografia do poeta.
Depois, por ideias diferentes, cada um tomaria seu rumo.
Mas a chama da parceria e da amizade ficaria para sempre. No final dos anos 1970, se reencontram numa longa temporada de shows no Canecão, com Toquinho e Miúcha. Prevista para três semanas, dura oito meses e serve para mostrar que a amizade é eterna, imortal.
Afinal, foram mais de 60 composições, algumas inesquecíveis, definitivas.
A melhor? Bem, cada um tem a sua.
A minha é “A felicidade”, com menção para “Água de beber”.
Vinicius & Tom, com Toquinho e Miúcha, em show na Itália, de 1978:
Fontes:
– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello