Há 45 anos… dia 27 de março de 1970.
POR FELIPE FIGUEIREDO MELLO*
É curiosa a imagem que nosso inconsciente coletivo carrega quando pensamos em Ringo Starr. Se não é “With a Little Help From My Friends”, é “Yellow Submarine” a primeira memória que nos emerge à consciência. De todo modo, vem sempre junto a imagem de um cara infantil (no bom sentido!), de um cara que sempre precisou da ajuda dos amigos.
Tantas e tantas foram as coisas que li e vi e ouvi sobre a maior banda de todos os tempos e seus fab four que tendo a pensar sempre que Ringo fez (muito) por merecer toda a ajuda, carinho e compaixão de seus amigos ao longo de sua vida e carreira.
Ringo é um cara do bem, definitivamente.
Último a se juntar aos Beatles, era uma espécie de “apaga-fogo” desde os tempos de Hamburgo, quando ele ainda era baterista do Rory Storm & The Hurricanes, que também se aventurava pela cidade alemã. Apesar de não ter sido o “baterista profissional” escolhido por George Martin para ocupar a vaga nas primeiras gravações dos Beatles e nem o queridinho do público (“Ringo never. Pete Best forever!”), não demorou para ele ser acolhido e aclamado.
E quando digo que Ringo fez por merecer, é porque ele sempre foi o poderoso lubrificante dessa engrenagem de egos do quarteto. Paul, John e George devem muito de suas carreiras ao amigo.
Mas chegou um dia em que não bastava lubrificar a engrenagem. A banda era pequena demais para as ambições pessoais de cada um. E cada um foi para um caminho: Paul foi McCartney, John plasmou-se à sua musa e foi Plastic Ono Band, George ao mesmo tempo aceitava e ditava que All Things Must Pass.
E Ringo teve a sua Sentimental Journey, que hoje comemora 45 anos.
Ao invés de se jogar para frente como os outros três, Ringo foi para o passado. Buscou suas reminiscências anteriores ao Rock’n’Roll nas baladas favoritas de sua mãe e de outros familiares: há canções de Cole Porter (“Night and Day”), Bud Green (“Sentimental Journey”), Mort Dixon (“Bye Bye Blackbird”), Scott Wiseman (“Have I Told You Lately That I Love You?”) e muitos outros.
E para dar forma à ideia, recorreu aos muitos amigos. A sugestão de George Martin, que produziu o disco, foi conceber os arranjos de cada música com um artista/amigo diferente. Entre eles o próprio Martin, Paul McCartney, Quincy Jones e Klaus Voorman.
Essa jornada sentimental inclui até a foto de um pub de Liverpool, localizado perto da casa onde Ringo nasceu, na capa do álbum (olha ele na frente da porta!). A curiosidade é que o pub teve uma reforma financiada pelo próprio Ringo depois do lançamento do álbum.
A crítica da época não recebeu bem o álbum, ainda que todos olhassem Ringo com mais complacência. Nem todos foram capazes de entender o momento do baterista, que saía do turbilhão de emoções que envolveu os últimos momentos dos Beatles. O próprio Ringo diz que o álbum foi “como a primeira porção de carvão jogada na caldeira de um trem, que o coloca centímetros à frente”.
Meses depois, seguindo essa jornada e ainda em 1970, descobrindo-se na folk music americana, gravou e lançou seu segundo álbum solo, Beaucoups of Blues.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Felipe Figueiredo Mello também segue a vida com uma pequena ajuda de seus amigos!
Ouça Sentimental Journey:
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