Há 15 anos… dia 22 de dezembro de 2002.
POR BRUNO FIUZA*
Em janeiro de 2003, a terceira edição do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, prestou uma homenagem inusitada. O tributo não era para uma grande figura da política, como seria de se esperar em um evento como aquele, mas para um músico de rock.
Em uma noite de verão, em pleno Anfiteatro do Pôr do Sol, um membro da organização do evento recitou os versos de “Porto Alegre Chamando”, uma adaptação da canção “London Calling”, escrita e imortalizada na voz de um músico britânico que havia morrido no mês anterior, aos 50 anos. Seu nome de batismo era John Graham Mellor, mas o mundo o conheceu simplesmente como Joe Strummer, vocalista e guitarrista da mítica banda The Clash.
Na sequência de sua morte inesperada, em dezembro de 2002, Strummer recebeu uma série de homenagens artísticas, mas talvez nenhuma tenha refletido melhor seu legado do que aquela recebida em Porto Alegre, pois Strummer foi muito mais do que um músico. O eterno vocalista do Clash está entre aqueles poucos artistas que fizeram de sua obra um verdadeiro ato político. Graças à sua rebeldia e militância transformadas em letras de música, ele foi um dos grandes responsáveis por fazer do punk não só um estilo musical, mas uma verdadeira contracultura política que inspirou uma importante renovação das lutas anticapitalistas no fim do século XX.
O “outro mundo possível” do qual falavam os milhares de militantes reunidos na capital gaúcha sempre esteve presente nas letras e na atitude de Joe Strummer, que no fim da década de 1970 subia ao palco para se apresentar com o Clash usando camisetas das Brigadas Vermelhas italianas e da Fração do Exército Vermelho alemão (Grupo Baader-Meinhof). E que em 1980 deu o título de “Sandinista!” ao quarto álbum de estúdio de sua banda em homenagem ao triunfo da Revolução Nicaraguense no ano anterior.
Na época de sua morte, ele estava trabalhando nas músicas de um novo disco que pretendia lançar com os Mescaleros, a banda que montou após a dissolução do Clash. Entre as músicas gravadas estava uma versão de “Redemption Song”, de Bob Marley, que acabou sendo lançada postumamente, junto com um clipe com imagens da pintura de um mural em sua homenagem, em Nova York. Na abertura do clipe há uma gravação de uma fala do próprio Strummer que resume bem a mensagem deixada por ele para o mundo: “O povo pode mudar qualquer coisa que ele quiser. E isso significa qualquer coisa no mundo. Mostre-me qualquer país, e haverá pessoas nele. É hora de colocar a humanidade de volta no centro do palco. Pense nisso. Sem o povo, você não é nada”.
* Bruno Fiuza é editor, jornalista e mestre em História Econômica pela Universidade de São Paulo.
“Redemption Song”:
Documentário “The Future Is Unwritten”:
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