Há 10 anos… dia 25 de novembro de 2007.
A maior tragédia do futebol brasileiro
POR VITOR RIBEIRO*
Era um domingo diferente, especial, a cidade toda só comentava sobre a volta do Bahia para a segunda divisão. Pelo fato de ter a maior torcida na cidade, obviamente Salvador amanheceu ensolarada e bem tricolor. Afinal, era o grande dia.
O Esporte Clube Bahia havia sido rebaixado para a terceira divisão em 2005, junto com o seu maior rival, o Esporte Clube Vitória. O rubro-negro retornou à segunda divisão no ano seguinte e o tricolor permaneceu por mais um ano.
No dia do grande jogo e da volta à tão sonhada segunda divisão, os ânimos estavam à flor da pele e o torcedor sabia disso. A partir de agora, irei relatar de acordo com o que eu presenciei naquela tarde, inesquecível por quem esteve lá.
Tinha 13 anos na época. Mal podíamos esperar a hora de ir para a antiga Fonte Nova e ver meu Bahia voltar à segunda divisão. Diga-se de passagem, naquele ano o Bahia quebrou o recorde de público contando as três divisões, mostrando para todo o país a paixão do torcedor tricolor.
Lembro que, assim que cheguei com meu pai, o campo da pólvora (centro) parecia carnaval fora de época e digno de um circuito Barra-Ondina. Especulavam-se 60 mil torcedores do lado de dentro e cerca de 30-40 mil do lado de fora.
Durante a semana, o ingresso que custava 5 reais na bilheteria inflacionava na mão dos cambistas, que fizeram a festa. A Polícia Militar fez uma mega-operação para combater os cambistas, que chegaram a inflacionar o preço até 100 reais. Afinal, tem torcedor que faz tudo para ver seu clube.
Infelizmente ou felizmente, eu e meu pai não conseguimos ingressos. Apesar de ter ido até o Dique do Tororó, enfrentando uma verdadeira avalanche tricolor, voltamos para o carro para escutar o jogo na rádio, pois não tinha como sair de lá, por causa dos outros carros que bloquearem as saídas.
Eis que começa o grande jogo: Bahia X Vila Nova (GO).
Lembro como ninguém o tanto de vezes que vi o grande Nonato, artilheiro do meu “Baêa”, ‘’brocar’’ as redes como ninguém. O zagueiro Alisson, xerifão. Os jovens Ávine, Ananias (Descanse em paz) e Danilo Rios, esperanças e xodós da turma tricolor.
Em jogo, se o Bahia vencesse, seria campeão da série C daquele ano. Já Vila Nova precisava apenas de uma vitória ou de um empate para se consagrar campeão. A partida estava morna, o Bahia dominava e, no finalzinho do primeiro tempo, teve um pênalti ao nosso favor, que Nonato não converteu. Aqui vem minha opinião: se essa bola entrasse, a tragédia seria pior.
Final de jogo: 0 x 0. E o Bahia, enfim, voltava para a segunda divisão.
A sensação de alegria e alívio logo deu lugar a uma profunda tristeza. Enquanto muitos invadiam o gramado para comemorar, do lado de fora o tumulto começava. Equipes do SAMU, Bombeiros e Polícia Militar faziam de tudo para socorrer as vítimas de uma queda equivalente a 20 metros de altura.
Uma parte da estrutura do segundo anel cedeu, fazendo com que 12 pessoas se ferissem gravemente. Depois, foram confirmados 7 óbitos. Lembro como nunca a imagem que ficou no centro, as pessoas chorando e preocupadas. As famílias ligando para as pessoas que estavam na Fonte Nova, procurando saber notícias. Claro que minha mãe foi uma delas. A comoção tomou conta e, no lugar da festa do acesso, se deu um grande ato de humanidade.
Até hoje esse dia nunca será esquecido.
Os anos passam, mas o sentimento de “E se fosse comigo?’’ sempre toma conta de mim. Nós temos duas estrelas no peito e 7 estrelas no céu. E ficam aqui minhas sinceras condolências aos familiares.
* Vitor Ribeiro, soteropolitano com orgulho, com raízes pernambucanas. Formado em logística e torcedor do tricolor baiano. O futebol é a maior que se imagina. Goleiro nas horas vagas, volta e meia escrevendo algumas coisas por ai! E claro: #BBMP
Melhores momentos:
Matéria do Globo Esporte sobre os 10 anos da tragédia:
Fontes e +MAIS: