9 de junho de 1917
Eric John Ernest Hobsbawm foi um historiador em tempo real.
Viveu a História in loco. O frenético século 20 foi seu lar.
Nasceu no ano da Revolução Russa, que marcou a ferro e fogo sua existência, sua ideologia e, claro, seus trabalhos – “Eu pertenço à geração para quem a Revolução de Outubro representou a esperança do mundo” –, morreu já no século seguinte, depois de experienciar guerras, revoluções, prosperidades, crises e fatos inacreditáveis.
Fatos que ele tão bem decifrou. Entre tantas razões, será sempre lembrado por provocar o interesse pela História para além dos bancos da academia, por causa de sua abordagem simples e direta, mas também “romântica”.
O apego ao Marxismo e ao ideário de extrema esquerda, mesmo após reveladas as barbaridades de Stalin, custou caro, mas não a ponto de arranhar definitivamente a reputação de grande intelectual e pensador, de perspicaz observador e de extraordinário historiador. (A não ser para certa revista destes tristes trópicos…)
Os obituários de 2012 comprovam a tese e revelam a admiração e o respeito dos mais diversos veículos pelo homem de ascendência judaica nascido em Alexandria, Egito, filho do inglês Leopold e da austríaca Nelly.
Da liberal Economist ao centro-esquerdista Guardian, Hobsbawm foi unanimemente louvado:
“Essa marca marxista ameaçou manchar sua reputação, quando seus livros lúcidos e acadêmicos sobre o que ele chamou de longo século 19, de 1789 a 1914 (A Era da Revolução, A Era do Capital, A Era do Império), sobre nacionalismo e movimentos trabalhistas mereciam, e ganharam, uma audiência muito além dos círculos esquerdistas e da academia” – Economist.
“Eric Hobsbawm foi um dos principais historiadores do Reino Unido e um dos mais importantes intelectuais do último meio século. Sua vida e obras foram moldadas por seu compromisso emocional com o socialismo radical” – BBC.
“Se Eric Hobsbawm morresse há 25 anos, os obituários o descreveriam como o historiador marxista mais destacado da Grã-Bretanha e o situariam mais ou menos lá. No entanto, no momento da sua morte, aos 95 anos, ele alcançou uma posição única na vida intelectual do país. Em seus últimos anos, tornou-se indiscutivelmente o historiador mais respeitado da Grã-Bretanha, reconhecido – se não aprovado – à direita e à esquerda, e um entre um pequeno punhado de historiadores de qualquer época a desfrutar de um verdadeiro renome nacional e mundial” – Guardian.
À parte a História, sua “grande musa”, adorava o jazz da primeira metade do século 20. Aliás, por um bom período da vida foi “sustentado” pela música, pois teve uma coluna semanal no New Statesman. Assinava sob o pseudônimo de Francis Newton.
“O entendimento da História é o que eu busco, não consentimento, aprovação ou simpatia”, escreveu, em suas memórias.
Sem a inquieta, apaixonada e diligente investigação de Eric Hobsbawm, o mundo seria mais obscuro e incompreensível.
Entrevista na GloboNews, 1 ano depois do 11 de setembro:
Fontes e +MAIS:
– bbc.com