Peça “Orfeu da Conceição” estreia no Rio de Janeiro

Há 60 anos… dia 25 de setembro de 1956.

Peça "Orfeu da Conceição" estreia no Rio de Janeiro

“Esta peça é, pois, uma homenagem do seu autor e empresário, e de cada um dos elementos que a montaram, ao negro brasileiro, pelo muito que já deu ao Brasil mesmo dentro das condições mais precárias de existência.” – Vinicius de Moraes.

O mito de Orfeu transportado para o morro e a favela do Rio de Janeiro. De uma tragédia grega para uma tragédia negra.

Um tributo ao Brasil que veio da África.

Só mesmo Vinicius de Moraes… “o branco mais preto do Brasil”!

Há exatas seis décadas, “Orfeu da Conceição” estreou no Teatro Municipal. A primeira vez que atores negros pisaram no mítico palco carioca.

Foi sucesso imediato e absoluto.

Conta Ruy Castro, em Chega de Saudade:

“Quando Orfeu da Conceição estreou no Teatro Municipal, no dia 25 de setembro de 1956, uma segunda-feira, a plateia teve vários motivos para fazer ohs de admiração. O cenário de Oscar Niemeyer era ousadamente alegórico, com uma rampa – tinha de haver uma rampa – conduzindo a um jirau que representava o morro, e a uma escada em espiral (o que era surpreendente, porque Niemeyer sempre odiou escadas) que fazia as vezes do barraco de Orfeu. O violão acabou não sendo Candinho, que não lia música, e sim Luiz Bonfá, por sugestão de Tom. E Tom, que deveria estar regendo a orquestra, teve medo de tremer face à plateia e passou a batuta às mãos mais firmes de Léo Peracchi, seu colega na Odeon.”

Haroldo Costa, Daisy Paiva, Zeny Pereira, Ciro Monteiro, Lea Garcia, Abdias Nascimento, Francisca de Queiroz, Waldir Paiva, Adalberto Silva, Pérola Negra, Clementino Luiz. Este foi o elenco da peça durante os seis dias de temporada no Municipal.

Na estreia, como conta José Castello na biografia de Vinicius, teve a ilustre e curiosa participação de Adhemar Ferreira da Silva, que se tornaria bicampeão olímpico do salto triplo dois meses depois, em Melbourne, na Austrália.

À parte a obra em si, de extraordinária inventividade e originalidade, “Orfeu da Conceição” foi responsável por nos “dar”, provavelmente, a maior parceria de todas dentro da Música Popular Brasileira: Tom & Vinícius, Vinícius & Tom.

A história toda do encontro – com a parte da hoje mítica frase de Tom sobre dinheiro – está contada em post do Especial de 100 anos do poetinha:

Vinicius estava à caça de alguém para musicar a peça “Orfeu da Conceição”, que ele acabara de escrever. Vadico, parceiro de Noel Rosa e pianista de Carmen Miranda nos EUA, havia declinado o convite do poetinha.

No Bar Vilarinho, em companhia dos amigos Lúcio Rangel e Haroldo Costa, conta de sua busca. Rangel, então, aponta para rapaz sentado em mesa vizinha, que tinha conhecido recentemente, pelo amigo Sérgio Porto. Vinicius lembra vagamente do rapaz, talvez de noitadas no Clube da Chave, em Copacabana, anos antes. Também se recorda que o amigo Paulinho Soledade já havia lhe falado sobre aquele talentoso pianista.

Dias depois, o encontro.

“Você aceita musicar minha peça?”, indaga o poeta, ao final da explicação sobre o projeto de “Orfeu”. “Tem um dinheirinho nisso?”, responde, tímido, o jovem pianista, que não tinha grana nem para degustar um whiskynho enquanto trabalhava nas intermináveis noites de música na Zona Sul.

Nascia Vinicius & Tom, Tom & Vinicius. 

Quinze dias depois, a dupla havia praticamente terminado a trilha da peça. Do primeiro encontro, a primeira “filha” é a maravilhosa e (hoje) histórica “Se todos fossem iguais a você”. 

O álbum com a trilha musical da peça foi lançado também em 1956, com Roberto Paiva interpretando as canções, Vinícius recitando o monólogo de Orfeu e Tom regendo a orquestra. Aperta o “play” ali embaixo! E dá umas clicadas nos links, principalmente o último, do Estadão… Vale a pena!

“Orfeu da Conceição” viraria “Orfeu Negro” no cinema em 1959 e se consagraria com prêmios em Cannes, no Oscar e no Globo de Ouro.

Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.

A trilha de “Orfeu da Conceição”:

Fontes e +MAIS:

– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello

– Vinicius de Moraes – Livro de Letras, de José Castello

– Livro Chega de Saudade, de Ruy Castro

– viniciusdemoraes.com.br

– jobim.org(1)

– jobim.org(2)

– Wikipédia

– companhiadasletras.com.br

– opiniaoenoticia.com.br

– jornalggn.com.br

– uspdigital.usp.br

– acervo.oglobo.globo.com

– Acervo Estadão

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