Há 30 anos… dia 31 de julho de 1986.
POR BEATRIZ FIGUEIREDO MELLO*
Temos todo o tempo do mundo.
No fim do dia, na viagem de estudo do meio, os adolescentes se reúnem em roda e tocam violão. Aproveitam o tempo entre o banho e o jantar.
A música era “Tempo Perdido”. Acompanhei cantando baixinho desde o primeiro acorde. Não era a primeira vez.
Jovens, monitores, professores. Cantando, compartilhando o tempo juntos.
“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou…”.
No meio da música, “comem” a letra. É a pressa de chegar ao refrão, no final. Acompanhei cantando mais alto, lembrando o pedaço perdido da música. Lembramos juntos e cantamos até o final.
“Somos tão jovens, tão jovens, tão joooveeens!”
Eu, eles e a percepção em tempo real, estávamos todos identificados com a letra. Eu cantava e pensava: eu aqui me achando tão jovem e eles, que são tão jovens, buscando sentido pra tanto por vir.
Renato Russo e Legião Urbana foram meus ídolos em tempo real.
O álbum Dois traz hinos.
“Tempo Perdido” está tão viva na voz dos meus alunos quanto nas rodinhas de 1986. A profunda angústia diante do tempo que passa e a cumplicidade e o alívio de encontrar parceiros.
Eu gostava mesmo é de “Quase Sem Querer”.
A guitarrinha do início, a batida da bateria que entra, a letra: “Tenho andado distraído…”
Que adolescente não se sente confuso?
Mas qual adolescente não se sente livre também? E é disso que fala a música. O poder da liberdade. Que letra!
Dois também tem as faixas mais políticas e “adultas”, como, por exemplo, “Metrópole” e “Fábrica” e, claro, “Índios”, que mistura História do Brasil, niilismo existencial, pós-modernidade e batida gótica. Um som “difícil”. Uma porrada de letra.
Por fim, “Eduardo e Mônica”. A canção de romance curta-metragem!
Ao lado de “Faroeste Caboclo”, é a mais emblemática do estilo “música para acampamento”, como a própria Legião proclamaria, em auto ironia fina e despojada.
“Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?”
A lógica sem lógica do amor. Sentimento universal.
Como a passagem e a percepção do tempo.
Como a descoberta da liberdade.
Viva a Legião!
* Meu nome é Beatriz Figueiredo Mello, sou mulher, mãe, professora e psicóloga. Trabalho com adolescentes e jovens. Acredito (muito) no potencial de ação e transformação que pode ser desenvolvido nessa fase da vida. O quê se planta hoje é o futuro do Brasil e do mundo.
Em tempo: o post de hoje foi coletivo. Do encontro real e virtual entre irmãos, nasceram essas linhas, assinadas por mim, mas com a colaboração e participação do Rodrigo e do próprio éfemello, que também editou.
Dois:
+MAIS: