Há 50 anos… dia 14 de junho de 1966.
Na dialética criativa de dois gênios, “Here, There and Everywhere” dialoga com “God Only Knows”. Foi a obra-prima de Brian Wilson e de Pet Sounds a inspiração para Paul McCartney criar a linda faixa de Revolver.
Segundo o próprio autor, uma de suas melhores composições. Para John, “a melhor música do álbum” e uma de suas favoritas, entre todas da banda, como ele revelaria posteriormente, na famosa entrevista para Playboy, em 1980.
Realmente, “Here, There and Everywhere” é linda e um tanto subestimada até hoje.
Paul a escreveu numa tarde na casa de John, em Weybridge, ao sul de Londres, enquanto o anfitrião cochilava – um dos hábitos de que mais gostava, aliás. Ainda mesmerizado com o recém-lançado disco dos Beach Boys, em particular “God Only Knows”, após audição em uma festa privada, Macca se sentou à beira da piscina e compôs a faixa número 5 de Revolver.
“Sentei à beira da piscina em uma das cadeiras de sol com meu violão e comecei a dedilhar em E. Logo, nasceram alguns acordes, e acho que quando ele acordou, eu tinha praticamente escrito a música. Então, levamos pra dentro de casa e terminamos”, contou Paul, em sua biografia, Many Years From Now.
Além dos Beach Boys, Paul também revelou influência peculiar e surpreendente, em entrevista à revista Mojo, em 2012: a Bossa Nova e o violão de João Gilberto!
“Na época, havia música brasileira chegando. Havia um intercâmbio acontecendo. Você ouvia e pensava o quão adoráveis os acordes brasileiros eram, e logo desistia e ia trabalhar em outra coisa. Ao mesmo tempo, me vi realmente apaixonado por todas as músicas antigas e tentando escrever algo comparável em técnica e estrutura”.
“Here, There and Everywhere” foi gravada em 3 dias. No dia 14 de junho, quatro takes, sendo um completo e com vocais. Paul, John e George fizeram o overdub das harmonias vocais, fundamentais para o resultado final.
Sobre elas, Sir George Martin disse: “As harmonias são muito simples, apenas acordes de três sons em que os garotos sussurraram e acharam muito fácil de fazer. Não há nada de muito revolucionário, sem contraponto, apenas um balanço de harmonias em bloco. Muito simples de fazer, mas muito eficaz”.
Em 15 e 16, eles finalizaram a música, com destaque para o lead vocal ímpar de Paul. “Quando gravei, lembro de pensar: ‘Vou cantar como Marianne Faithfull – algo que ninguém jamais pensaria’. Usei a voz em semi-falsete e depois dobrei. Foi o meu cover de Marianne Faithfull”, brincou.
A Rolling Stone colocou “Here, There and Everywhere” no 25º lugar na lista das “100 Melhores Músicas dos Beatles”. Há inúmeras versões à altura, como essa surpreendente de David Gilmour, de 2015.
O curioso é que os Beatles nunca a tocaram ao vivo e Paul só foi apresentá-la em 1991, por ocasião da gravação do disco Unplugged.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Take 14 de “Here, There and Everywhere”:
Fontes e +MAIS: