Há 595 anos… dia 7 de agosto de 1420.
POR NETA MELLO*
No início do século XIV, a cidade toscana de Florença tinha cerca de 30 mil habitantes.
A moeda fiorentina, o florim, equivalia ao dólar de hoje. Mercadores de diversas partes da Europa, corporações de ofício, oficinas de pintores, escultores representavam o verdadeiro espírito renascentista de Florença.
O humanismo presente em cada canto, paredes, torres, igrejas, palácios. Grande parte encomenda da família Médici, mecenas importante como Lourenço, chamado “o magnífico”. Queriam deixar seus nomes e o da cidade para a posteridade. Conseguiram.
Nomes como Dante Alighieri, Nicolau Maquiavel e Galileu Galilei ali criaram e se tornaram ícones da cidade do Renascimento. Pense em Fra Angelico, Giotto, Donatello, Verrochio, Botticelli, Leonardo da Vinci, Michelângelo, Rafael Sanzio, Lorenzo Ghiberti, Fillipo Lippi, Masaccio, Ghirlandaio. Pensou? Há uma lista bem maior de artistas.
Filippo Brunelleschi é um dos grandes nomes. Nasceu em Florença em 1377. Aprendeu o ofício da ourivesaria em prata e ouro, criação de relógios, mas não parou por aí.
Em 1401, um concurso de design em bronze para as portas do batistério da cidade fez com que o artista buscasse novos caminhos. Mas Lorenzo Ghiberti venceu o concurso das portas, vistas por milhares de turistas desde então.
Brunelleschi e o pintor Masaccio podem ser chamados de pais da perspectiva com aplicação de leis matemáticas – a perspectiva científica. Foi na arquitetura que Brunelleschi mais se destacou.
Em 1418, outro concurso para a construção do domo da catedral de Santa Maria del Fiore – il Duomo – colocou novamente o artista na disputa com Ghiberti. Promovido por Cosimo de Medici, o ganhador levaria 200 florins. A história é longa, houve uma espécie de empate, mas Brunelleschi levou adiante a construção, que começou no dia 7 de agosto de 1420, há 595 anos.
Considerado inovador mesmo hoje, o projeto de duas abóbodas octogonais sobrepostas virou um símbolo de funcionalismo arquitetônico por sua leveza e proporção. No topo interior, o desafio de instalar a grande bola de bronze feita por Verrochio fez com que o arquiteto inventasse uma máquina para erguê-la. Um jovem aprendiz chamado Leonardo da Vinci foi um dos que ajudaram na operação e deixou desenho do projeto.
A imponente Santa Maria del Fiore projetada por Arnolfo Cambio pode ser vista de longe, da vizinha cidade de Fiesole. O campanário de Giotto, a cúpula de Brunelleschi, o batistério com as portas de Ghiberti fazem parte da história do Renascimento e do Patrimônio da Humanidade.
* Neta Mello, 60 anos, é historiadora e escritora. Tem quatro livros publicados e escreve no Blog da Neta.
Animação da National Geographic sobre a construção do domo:
+MAIS: