Há 10 anos… dia 22 de julho de 2005.
POR RICARDO MARTENSEN*
Um grupo de corpos negros caminha distante em meio à imensidão branca do gelo. Lembram beduínos em seu lento e misterioso deslocamento pelo deserto. Em off, a voz inconfundível de Morgan Freeman fala de uma lenda. Uma tribo teria bravamente resistido ao congelamento de um continente inteiro que acabou se deslocando para o extremo sul do Planeta: a Antártida. Segundo o texto, a história destes indivíduos retrata muito mais do que sobrevivência. É também uma história de amor.
Assim começa “A Marcha dos Pinguins”, documentário que narra a incrível jornada dos pinguins imperadores, desde a saída do mar até o local de procriação, no interior do continente Antártico.
Documentários de natureza frequentemente atribuem sentimentos e comportamentos sociais de humanos aos animais retratados. É a forma mais simples de se estabelecer uma conexão entre a audiência e os personagens. A intenção é que, em dado momento do filme, já estejamos torcendo pela recuperação do rinoceronte “X” ou se emocionando com a formação do casal de jovens leopardos. Não obstante, muitas vezes estas associações são muito forçadas e um tanto ridículas.
“A Marcha dos Pinguins” consegue achar um ponto equilibrado dentro deste estilo, nos proporcionando um denso mergulho na dinâmica de um grupo de animais, ao mesmo tempo em que evita individualizações piegas.
O fio condutor da história é a incrível capacidade de sobreviver e se reproduzir no lugar mais escuro, seco e frio da Terra. A fotografia é impressionante – especialmente quando se imagina que muitas das imagens foram feitas sob temperaturas próximas dos 50 graus negativos. O filme realmente transmite essa sensação.
A associação com nossas vidas, no entanto, aparece a todo momento: a luta por um parceiro, a monogamia, a “inveja” de uma mãe que perdeu sua cria e tenta roubar a de outra fêmea. Por fim, o jeitão desengonçado dos pinguins garante boas risadas e a inevitável identificação com os bichos.
A fórmula deu certo, resultando em grande sucesso de crítica e público. O filme venceu o Oscar de Melhor Documentário e se tornou a segunda maior bilheteria do gênero nos EUA, ficando atrás apenas de “Fahrenheit – 11 de Setembro”, de Michael Moore, lançado um ano antes.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Ricardo Martensen é documentarista e apaixonado por boas histórias.
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– IMDb