19 de junho de 1965
Eram jogados redondos 25 minutos do primeiro tempo. No placar do estádio Nacional de Tóquio, Barcelona 1 x 0 São Paulo. Da meta azul-grená, Zubizarreta dispara o chutaço em direção ao lado esquerdo do ataque catalão, onde estava o astro e autor do gol, o búlgaro Hristo Stoichkov. Ronaldo Luís fura a cabeçada e a bola quica duas vezes no solo antes do duelo fatal: Stoichkov e Ronaldão.
De trás, o camisa 4 tricolor vem decidido, olhos fixos na bola. Na mente, a música de Jorge Ben: “Arrepia, zagueiro!”. Antes do terceiro toque no solo, um carrinho firme, com a canhota. Bruto, porém leal. Duro, mas na bola. Pelota que fica em jogo, mas tem a trajetória paralisada pelo árbitro argentino Juan Carlos Loustau.
Injustamente, Loustau aplica o cartão amarelo em Ronaldão. Erro do argentino.
No lance, Ronaldão dá o toque na redonda, desliza junto ao solo, de costas, gira, levanta e sai de peito estufado. Hesitante, Stoichkov vai mole, é atingido pelo zagueiro, dá um rodopio no ar e cai com o lado esquerdo do corpo no gramado, de cara e ombro na relva do Nacional.
Começava ali o primeiro título mundial do São Paulo.
Dois minutos depois, com o búlgaro fora de jogo, atendido pelos médicos do Barcelona, Raí desvia de barriga o cruzamento de Muller, que entortara o lateral Ferrer, em lance para a eternidade.
Ronaldo Rodrigues de Jesus, nome histórico do São Paulo Futebol Clube. Ouso dizer que foi o cara das duas finais, tanto contra o Barça quanto diante do Milan, no ano seguinte. Zagueiro sério, líder, inteligente dentro de campo.
Com a palavra, Raí:
“A estratégia do Ronaldão era menos lúdica e mais rude e eficaz. Nosso empate começou com ele. Eu falo disso já, já.
Antes, tenho a obrigação de abrir espaço para expressar a minha admiração por este cara: Ronaldão é tema de palestra que faço para empresas. Quando cheguei ao São Paulo, ele estava no juvenil, no júnior. Todas as semanas via o Ronaldo perguntar ao Cilinho no que poderia melhorar, questões de posicionamento, o que estava certo, o que estava errado… Reparava que tinha dificuldades técnicas e me instigava saber como havia chegado aquele estágio. Para estar perto da categoria profissional é necessário apresentar qualidades. Ronaldão conhecia suas limitações mais do que ninguém e demonstrava vontade de evoluir como nenhum outro jogador. Terminava o treino e ele ficava no campo, corrigindo os pontos fracos. Era extremamente concentrado no trabalho e tinha suas metas compatíveis com o seu tamanho. Em 1993, Carlos Alberto Parreira convocou a Seleção Brasileira e – como sempre – chamou vários são-paulinos. Fora da lista, Ronaldão ficou louco da vida, e a chateação virou chacota no grupo: ‘O que Ronaldão quer agora? Seleção?’.
Um ano depois, ele dava a volta olímpica no Rose Bowl, em Los Angeles, como campeão do mundo.
O golpe decisivo
Voltemos ao Japão, à tesoura voadora de Ronaldão em Stoichkov, que deu um salto mortal e caiu de cara no chão. Claro recado: ‘Aqui não vai ser fácil assim, não’.
No voo de volta para casa, o árbitro da final, Juan Carlos Loustau, por acaso vizinho da poltrona do Zetti, contou que Stoichkov reclamou da falta durante todo o jogo.”
1992 – O Mundo em Três Cores – Raí e André Plihal.
Em quase 10 anos de Morumbi, foram 12 taças. Além dos dois mundiais, Ronaldão conquistou duas Libertadores (92 e 93), dois Brasileiros (1986 e 1991), quatro Paulistas (1987, 1989, 1991 e 1992), uma Recopa Sul-Americana (1993) e uma Supercopa da Libertadores (1993).
Depois, teve experiência no Japão, em 1994, jogando pelo Shimizu S-Pulse. No mesmo ano, a conquista do Tetra com o Brasil. Foi quando ganhou o aumentativo no nome, para se diferenciar do novato Ronaldo, o futuro Fenômeno, que já havia sido inscrito antes dele.
Passou ainda por Santos, Flamengo, Coritiba e Ponte Preta, clube em que encerrou a vitoriosa carreira, em 2002.
Ronaldão, o zagueiro que curtia Shakespeare, rock and roll e MPB.
O cara que, literalmente, deu o pontapé inicial para a primeira conquista do mundo pelo São Paulo.
Ronaldão revê a carreira:
Fontes e +MAIS: