15 de maio de 1965
“Honra essa camisa! Você tá vestindo a 10! A 10 do Raí!”.
A 10. A 10 do Raí!
Perdi as contas de quantas vezes gritei isso no Morumbi – acompanhado, claro, de sonoros impropérios! Nos últimos cinco anos, então…
Ninguém, com exceção do Danilo e do Hernanes, honrou a 10 dele desde 2000, ano do fim.
Para a geração do meu pai, ela foi de Gérson e Pedro Rocha.
Para a minha, a 10 é dele: Raí Souza Vieira de Oliveira, quinze do cinco de sessenta e cinco, Ribeirão Preto, São Paulo. Dos álbuns de figurinhas, memorizei a ficha técnica do que se tornaria meu maior ídolo.
Para o garoto de ontem, colecionador de figurinhas e sonhos, novato de tudo na roda viva, roda-gigante chamada futebol, jamais haverá jogador maior que Raí na História do São Paulo Futebol Clube.
Para o adulto de hoje, colecionador de posts e sonhos, nostálgico de tudo na roda viva, roda-gigante chamada futebol, jamais haverá jogador maior que Raí na História do São Paulo Futebol Clube.
Raí é a memória do garoto e a saudade do adulto.
Memória e saudade de um tempo que não volta mais. Do Morumbi gigante, de concreto quente, áspero, com amendoim torrado de casca e picolé de limão. De tardes, noites e madrugadas de glória. Marcadas a ferro e fogo no coração do garoto. Inesquecíveis.
Raí é a cara e o coração de um clube que não existe mais. O Clube da Fé. Vanguardista, à frente do tempo, precursor, magnânimo, gregário, elegante, empático. De gestos, ações e projetos de ousadia. Escritos à tinta na história do futebol brasileiro. Inapagáveis.
Toda vez que o adulto balança, o “Pivete” vem pra lhe dar a mão.
Vem pra lembrar do gol de falta em Tóquio, do abraço terno no Telê, da cabeçada contra o Corinthians, da letra contra o Palmeiras…
Pra recordar a elegância, a liderança, a técnica, o caráter, a modéstia, a magnanimidade. Dentro e fora das quatro linhas.
Pra celebrar os 5 Paulistas, 1 Brasileiro, 2 Libertadores e 1 Mundial.
Jamais haverá jogador maior que Raí na História do São Paulo Futebol Clube.
Feliz 50, camisa 10!
E obrigado.
Em tempo: o garoto de ontem e o adulto de hoje não se conformam pelo clube nunca ter oferecido uma despedida ao camisa 10.
Os gols contra o Barcelona:
Fontes e +MAIS:
– Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos