Há 25 anos… dia 9 de abril de 1990.
Mito, folclórico, testemunha ocular da História.
Um personagem ímpar, daqueles que só o Brasil e o futebol brasileiro podem produzir.
Uma verdadeira entidade da seleção brasileira, que viu de tudo: o Maracanazo, a redenção na Suécia, o Bi no Chile, o Tri no México. Mais fácil lembrar o quê ele não viu! De 1950 a 1974, foi o massagista oficial do escrete brasileiro nas Copas do Mundo. O querido “Tio Mário”, como os jogadores carinhosamente o chamavam.
Mário Américo é uma lenda.
Tantas histórias sobre ele que é difícil escolher uma… Pra mim, a da bola da final de 1958 é inesquecível.
Uma verdadeira saga, contada pelo meu pai como uma fábula dos irmãos Grimm:
– Doutor Paulo deu uma missão para Mário Américo: pegar a bola da final! Mário, assim que o francês apitar, você corre, pega a bola e volta pro vestiário, pediu o doutor Paulo, em tom sério. O Mário tinha um preparo físico espetacular, tinha sido lutador de boxe e ainda estava em forma. Então, no que o jogo terminou, ele correu, deu um soquinho na bola, que estava nas mãos do juiz, pegou e se mandou pro vestiário. Lá, trocou a bola da final por uma outra. E o Brasil trouxe a relíquia pra casa! -, resumia meu pai, saudoso e risonho.
Na verdade, a história da captura da pelota foi bem mais difícil e exigiu malandragem e astúcia de Mário Américo.
O pedido do chefe da delegação tinha sido uma ordem. Na véspera da decisão contra a Suécia, Paulo Machado de Carvalho chamou o massagista em seu quarto. “Eu quero aquela bola, Mário, veja o que você pode fazer”, determinou, segundo lembranças do próprio Mário, presentes no livro Memórias de Mário Américo – o massagista dos reis, do jornalista Henrique Matteucci.
Assim, ele passou o jogo inteiro arquitetando um plano para o resgate da bola. Quando Pelé fez o quinto gol e caiu em prantos, em frente à meta da Suécia, o massagista foi em direção ao camisa 10. Maurice Guigue aproveitou a deixa, ergueu os braços e deu fim ao jogo.
Festa, choro e alegria no estádio Rasunda, pela primeira conquista mundial da seleção brasileira. Bagunça no gramado, muita gente em campo e Guigue com a bola do jogo. O grande objetivo de Mário estava nas mãos do homem de preto.
Aos 46 anos, o forte e atlético massagista se posicionou às costas do árbitro, deu um tapa na pelota, agarrou-a no ar, como se fosse o próprio Gilmar dos Santos Neves, e saiu em desenfreada carreira em direção ao vestiário.
Guigue imediatamente acusou o golpe e policiais suecos perseguiram o brasileiro, que acabou adentrando o vestiário dos anfitriões. Ligeiro, Mário pulou um muro, com a inestimável ajuda do roupeiro Francisco de Assis, outra entidade da seleção, e conseguiu chegar à “trincheira” brasileira. Com a relíquia nas mãos!
Então, guardou a bola da final em um saco de roupa suja e a substituiu por outra parecida. Logo, Maurice Guigue e delegados da Fifa apareceram para recuperar a pelota que rolara na relva do Rasunda. Mário não hesitou e devolveu a bola, a outra.
Guigue retornou ao vestiário, exigindo a legítima. Conversa vai, conversa vem, até que os cartolas brasileiros fizeram uma promessa: devolveriam a esfera no jantar comemorativo, à noite. “Parfait!”, disse o juiz francês.
E lá estava Guigue e os bandeirinhas, na entrada da festa, aguardando para recepcionar Mário Américo e a bola. Mas Mário era astuto… Como já havia escrito Nelson Rodrigues, em mais uma de suas geniais e precisas definições, “Mário Américo age pelo riso, apenas pelo riso”.
Então, risonho, o elegante e carismático massagista tratou de enrolar “vossas excelências”. “Vamos beber um pouquinho e fumar um charuto, que tal?”, convocou. Muitos cubanos e Moëts depois, o trio se esqueceu completamente da bola!
Conclusão: Guigue e seus auxiliares saíram do jantar sem perceber que portavam uma bola falsa, com a sigla da CBD em um dos gomos! No dia seguinte, a verdadeira bola, a da final, viajava de volta ao Brasil, sob escolta implacável de Paulo Machado de Carvalho. E de Mário Américo, claro!
Esse foi Mário Américo. Tem muito mais coisa sobre ele aí nos links abaixo! Clica!
Imagens de Mário Américo em Copas do Mundo:
Fontes e +MAIS:
– tardesdepacaembu.wordpress.com