Há 55 anos… dia 5 de março de 1960.
Fidel Castro discursava com fúria em Havana. Na eloquente palestra para a multidão que tomava as ruas da capital cubana, usou a expressão “Patria o Muerte” pela primeira vez. Estava furibundo.
Tinha motivos. No dia anterior, o barco francês “La Coubre”, carregado com toneladas de armamentos vindos do porto da Antuérpia (Bélgica), explodiu em plena tarde de Havana. Cerca de 136 pessoas morreram (outras estimativas falam em um número entre 75 e 100) e mais 200 ficaram feridas.
Foi sabotagem. Fidel logo apontou o dedo para os Estados Unidos e para a CIA. E soltou o verbo!
Havia muita gente acompanhando a homenagem na Calle 23, incluindo até Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Em certo momento da fala do líder, surgiu Che Guevara. Abatido. Tinha visto de perto a dor e o sangue no cais. Estava muito próximo do local e, tão logo ouviu o estrondo, foi correndo pra lá. Vestiu o avental e se investiu de médico novamente. Ajudou no que foi possível.
No dia seguinte, estava recluso. Apareceu e saiu da cena.
Breves segundos. Para os mestres da fotografia, é o que basta.
Alberto Korda olhava o palco e registrava tudo: a cólera de Fidel, o casal Sartre & Beauvoir, o ambiente geral. Tão logo percebeu a presença de Che, mirou e enquadrou o revolucionário com sua Leica M2 e clicou duas vezes: uma na horizontal, outra na vertical.
Pronto. Sem saber, acabara de captar a foto do século.
“Eu me lembro dele olhando a multidão na Calle 23. Implacabilidade absoluta, raiva, dor. Olhar ele enquadrado no visor, com aquela expressão. Ainda hoje me assusto pelo impacto… me abalo de maneira poderosa”, disse, anos depois, sobre Che naquele dia.
O curioso é que a imagem altiva do compañero se tornaria um ícone somente sete anos depois, quando apareceu na revista Paris Match, em um artigo intitulado “Os Guerrilheiros”.
E, assim, “viralizou”, como dizem hoje!
Meses antes, no início de 1967, o publisher italiano Giangiacomo Feltrinelli tinha procurado Korda para pedir um retrato de Che. O fotógrafo apontou a imagem pendurada na parede de seu estúdio, dizendo que era seu melhor registro do revolucionário argentino. O autor tinha cortado a foto e isolado Che. Uma cena poderosa. Feltrinelli requisitou duas cópias e, quando foi pegá-las, no dia seguinte, Korda disse que não precisava de pagamento. Desde então, o criador nunca recebeu um centavo pela criatura.
Em outubro, quando Che foi assassinado na Bolívia, pôsteres com a famosa imagem transbordaram nas manifestações e homenagens mundo afora. A fotografia foi batizada de “Guerrillero heroico”.
Depois, se tornou “a imagem mais reproduzida da história da fotografia”, segundo o Victoria and Albert Museum. Está em todo lugar: camisetas, broches, lenços, tênis, colares e até fraldas! E na camisa do Madureira também!
Korda morreu em 2001.
Hoje, com um charuto e um copo de rum nas mãos, relembra com Che sobre o dia em que o imortalizou.
Trailer do documentário “Kordavision”, com Korda relembrando a foto:
Fontes: