21 de fevereiro de 1965
POR LUIZ RAATZ*
Todas as crianças têm um primeiro ídolo no futebol. Cada time tem o seu. Os são-paulinos da minha geração tinham Zetti, Raí, Muller. Os corintianos sempre vão lembrar de Neto, herói do primeiro título nacional, além de Viola e Marcelinho Carioca. Todos bons jogadores, alguns deles campeões do mundo com a seleção brasileira. Os palmeirenses da minha geração sofreriam um pouco até encontrar um ídolo digno.
Não era fácil ser palmeirense em 1990. O time era fraco e não ganhava nada desde 1976. Um pouco parecido com os últimos anos, aliás. Naquela época, o ídolo possível deste pequeno palmeirense era Careca Bianchezi, um genérico mal feito do Careca do Napoli, que brilhou na Itália e, antes, no São Paulo e no Guarani.
Uma das esparsas alegrias daqueles tempos duros foi quando Paulo Roberto Falcão levou o Careca para ser o camisa 9 do Brasil na Copa América de 1991 (Veloso também foi chamado). Careca não fez um gol sequer, o Brasil perdeu o campeonato e um pouco depois Falcão seria demitido.
Careca Bianchezi acabou vendido para o Atalanta da Itália. No lugar dele, veio um tal de Evair, que eu nunca tinha ouvido falar. Em 1992, Evair chegou a ser afastado pelo técnico Nelsinho Baptista. Dizia-se que tinha hérnia e estava acabado para o futebol.
A maré virou mesmo para o palmeirense em 1993. A Parmalat montou um supertime, com Edmundo, Roberto Carlos, Edílson e Antônio Carlos. Eles se juntariam a Evair, Zinho e César Sampaio.
A verdade é que eu não gostava do Evair. Achava ele lento, velho e desengonçado (apedrejem-me, eu mereço!). Preferia o Edmundo, passional, descontrolado e maluco. Nas peladas pré-adolescentes, era o camisa 7 quem eu tentava imitar, não o 9.
E então veio o 12 de junho. Temi pelo pior na entrada do Edmundo no Paulo Sérgio. O juiz aliviou. Veio o chute do Zinho. Lento, denso, eterno. 1 a 0. Precisávamos da vitória no tempo normal e na prorrogação.
Segundo tempo: dois a zero. Evair! Porra, podia ser o Edmundo, mas 17 anos de fila exigem padrões flexíveis! Mais tarde, três a zero. Edílson.
Prorrogação. Edmundo sofre o pênalti que pode dar o título ao Verdão.
– VAI, EDMUNDO, BATE ESSA PORRA!
Evair foi pra bola. Fiquei puto.
Eu não me lembro do gol. Eu não me lembro da festa. Daquele jogo a minha lembrança mais nítida é o gol do Zinho.
Lembro que na segunda-feira, no colégio, fui buscar a desforra. Era o único palmeirense da turma. Eles iam ter de me engolir.
Evair ainda voltaria para decidir a Libertadores de 99, junto com Zinho e Sampaio.
Campeão de tudo. Herói. Ídolo.
Feliz aniversário!
* Luiz Raatz tem 32 anos é palmeirense e jornalista.
Os gols de 12 de junho de 1993, com José Silvério:
+MAIS: