Há 25 anos… dia 11 de fevereiro de 1990.
Tyson na lona.
A foto-legenda na capa da edição de 24 de janeiro do Estadão mostrava algo inédito e surpreendente: o supercampeão dos pesados no chão, pela primeira vez. Nocauteado pelo sparring Greg Page durante treino em Tóquio, Tyson, 37 vitórias, 34 por nocaute, desdenhou: “Ninguém pode me derrubar”.
Era o prenúncio, o presságio, o prelúdio da maior zebra da nobre arte.
A data de 11 de fevereiro de 1990 entrou para a história do boxe e do esporte mundial como o dia em que Mike Tyson foi derrotado pela primeira vez.
Uma derrota e tanto, amigos! Uma surra que o campeão nunca havia experimentado.
Do soar do gongo inicial até o momento em que beijou a lona, a 1min52s do fim do 10º round, Tyson teve somente um momento para respirar dos golpes do desafiante: no oitavo assalto, após um gancho de direita, derrubou o adversário. Só aí, Tyson esteve protegido das pancadas do grandalhão James “Buster” Douglas.
E, afinal, quem era James “Buster” Douglas? Aos 29 anos, seis a mais do que o campeão, tinha cartel de 29 vitórias, quatro derrotas e um empate. Com 1,91m de altura e 105kg, mãos enormes, era um boxeador de grande talento e potência, com um jab pesado e ótima agilidade para o seu tamanho. Sofria, porém, de falta de dedicação. Preguiçoso e mal preparado, parecia ter destino do anonimato no esporte.
Destino que trataria de escrever trama surrealista para Douglas. Um roteiro de Rocky Balboa, com quem a revista Sports Illustrated o comparou depois da zebra no Tokio Dome, no Japão.
Pouco antes do desafio de sua vida, James “Buster” Douglas perdeu a mãe, viu a esposa ficar doente seriamente nos rins e, pra completar, pegou uma forte gripe na véspera do combate.
Diante de tais sofridas circunstâncias, a impossível e improvável vitória sobre o indestrutível Mike Tyson significaria a superação incrível do “underdog”, o script perfeito para Hollywood, a eterna e velha trajetória da resiliência do homem da América.
Pois lá foi “Buster” Douglas ser droite na vida! E que direita ele usou para derrubar o campeão! Um gancho poderoso que acertou a cabeça de Tyson em cheio. Uma sequência especial de jabs, upper cut, esquerda, direita e esquerda. Série mágica, de manual da nobre arte.
Mike Tyson desabou de costas e colou no tablado. A muito custo – e já com a contagem do juiz Octavio Mehran iniciada -, ficou de quatro na lona, tentando se reerguer. Choque no Tokio Dome.
Com a luva direita, o campeão recolocou desajeitadamente o protetor bucal entre os dentes, olhar perdido, retinas reviradas. No que se recompôs de pé, Mehran ergueu os braços e decretou o fim.
Uma cena kafkiana, surrealista, congelada em abraço igualmente irreal entre Mehran e Tyson.
Inacreditável. Extraordinário. Surpreendente.
Poucos meses, capas de revista, matérias de TV, baladas, noitadas, festas, mulheres e alguns milhões na conta bancária depois, James “Buster” Douglas seria nocauteado por Evander Holyfield, em combate que durou três rounds.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Veja a luta na íntegra (vale a pena!):
Fontes e +MAIS:
– nytimes.com (outro)