Há 20 anos… dia 30 de agosto de 1994.
POR LEONARDO NADOLNY NASSOUR*
Num momento de tantas tensões políticas e novas esperanças como o que vivemos, é engraçado poder me transportar para 1994, morada dos meus 13 anos. Meu DeLorean? Um CD empoeirado, encapado com uma estranha fotografia de uma pequena sala onde cinco garotos hipnotizados assistem a uma pequena TV, enquanto, em alta velocidade, um globo gira em vão. No centro de toda a cena, Liam Gallagher em pose fúnebre.
“Eu vivo minha vida na cidade e não há saída fácil, os dias passam muito rápido pra mim”, desabafa, com voz estridente, o vocalista, logo na introdução da clássica faixa de abertura. O refrão era irresistível e não tinha como não gritar junto: “Essa noite eu sou uma estrela do Rock’n’Roll!!!”
Uma guitarra com sonoridade psicodélica inaugura a segunda, e brilhante, faixa. Em seguida, a frase “Eu gostaria de ser outra pessoa”. E que adolescente não gostaria?
E, então, surge a inesquecível bateria do expurgado Tony MacCaroll na introdução de “Live Forever”. Um belo hino aos bons companheiros. “Você e eu viveremos para sempre”, canta Noel, em falsete, roubando os vocais do irmão no refrão.
A quarta faixa é um dos pontos altos do disco. A mais política, denuncia, em ritmo alucinante, a insatisfação do operariado inglês com a coroa britânica. Pra mim, parecia que “Up in the Sky” tinha sido feita para minha professora de matemática!
“Columbia” é a faixa com a letra mais misteriosa. Uma bela viagem sobre a dificuldade de comunicação e entendimento. Seja entre classes sociais, gerações distintas ou a velha Europa e a América. Uma nave que explora diferentes mundos.
Em seguida é a vez da grandiosa “Supersonic” e sua mensagem direta para os bem-sucedidos garotos do giro financeiro londrino: “Você pode ter tudo isso, mas o quanto você quer isso? Você me faz rir”.
“Bring It on Down” é a mais raivosa de todas. “Eu sei que você tem um problema que o diabo mandou”! É quebradeira pra black block nenhum botar defeito! Rock’n Roll puro, mostrando toda influência que os Sex Pistols e o punk ainda tinham.
A emblemática “Cigarettes & Alcohol” denuncia a eterna descrença dos jovens com o mundo instituído. Vale a pena ter um trabalho no qual você não acredita? E vale a pena se matar para criar um riff novíssimo se você simplesmente pode chupar um pronto como “Get it On” do T-Rex?
A mais divertida do CD é “Digsy’s Dinner”. Uma letra esquisita sobre lasanhas e um teclado levando leveza a um álbum carregado de guitarras pesadas dão um tom cool pra faixa, que introduz a porção final e menos memorável do disco.
“Slide Away” é o ponto mais baixo. Uma melosa viagem romântica por aí resume a faixa.
Uma despedida melancólica de Liam fecha de forma surpreendente o álbum, em “Married with Children”, pavimentando o caminho para uma manhã mais gloriosa!
O álbum definitivo de uma geração? Talvez não. Mas uma boa prova de que, apesar de discos e memórias envelhecerem, a humanidade continua renovando sentimentos, inquietações e dúvidas!
Que o talvez seja definitivo! E o definitivamente talvez.
* Leonardo Nadolny Nassour é arquiteto e habitante da cidade.
Nota do blog: há controvérsias com relação a data exata de lançamento do disco. Alguns sites falam dia 29, outros falam 30. De qualquer maneira, fica registrada a homenagem!
Ouça Definitely Maybe:
Fontes: