Há 10 anos… dia 29 de agosto de 2004.
Foi um dia e tanto para o esporte.
Era o último da Olimpíada de Atenas, na Grécia. De manhã, no ginásio Paz e Amizade, a seleção brasileira masculina de vôlei conquistava a medalha de ouro com vitória sobre a Itália, por 3 sets a 1. Coroação de Bernardinho e da geração de Giba, Ricardinho, Nalbert, Serginho e companhia, além do bi olímpico para Giovane e Maurício.
Quase ao mesmo tempo, na Bélgica, Michael Schumacher levava seu sétimo e último título na Fórmula 1. O segundo lugar no GP realizado no circuito de Spa-Francorchamps consagrava definitivamente o alemão como o maior piloto da mais alta categoria do automobilismo mundial.
Mas o fato mais emocionante estava por vir.
Maratona, evento derradeiro dos Jogos da Grécia. A prova teria o exato trajeto feito por Feidípedes em 490 a.C., quando o soldado percorreu mais de 42 km para levar a notícia da vitória grega sobre os persas na Batalha de Maratona, na Primeira Guerra Médica. A origem da prova vem daí.
O brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima não estava entre os favoritos da disputa em Atenas. Então com 35 anos, tinha pouco destaque em maratonas internacionais, com raros bons resultados. Nas duas Olimpíadas anteriores, em Atlanta-1996 e Sydney-2000, obteve posições pífias (47ª e 75ª, respectivamente).
No novo ciclo olímpico, porém, alcançou duas marcas que deram certa esperança para a prova em Atenas: vitórias na Maratona Internacional de São Paulo, em 2002, e em Santo Domingo, em 2003, o bicampeonato pan-americano.
Ainda assim, não se colocava como candidato ao pódio na capital grega.
Até que a prova começou…
Depois do estouro da boiada e da arrancada dos chamados “coelhos”, Vanderlei se colocou no pelotão de elite. A partir da 1 hora de prova, se destacou em primeiro lugar e começou a abrir. Na metade do trajeto de 42,195 km, o brasileiro tinha 15 segundos de vantagem sobre o segundo colocado, o italiano Stefano Baldini. Com firmeza e foco, nada parecia deter o brasileiro rumo ao ouro.
Mas havia um padre no meio do caminho. Ou melhor: havia um ex-padre no meio do caminho.
Por volta do km 36, a menos de seis para a linha de chegada no estádio Olímpico, um louco vestido de saiote e trajes da Irlanda entrou na frente e agarrou Vanderlei, jogando o brasileiro na calçada, pra cima da multidão. A transmissão, que filmava o líder, cortou a câmera para o pelotão secundário.
No que a imagem retornou ao primeiro colocado, pôde-se perceber um Vanderlei absolutamente transtornado. Aos poucos, os 40 segundos que o separavam de Baldini viraram pó. A tensão e a abrupta interrupção de seu passo traumatizaram o brasileiro, que acabou perdendo a primeira e a segunda colocação.
Ainda assim, Vanderlei se superou. Retomou o foco e garantiu a medalha de bronze, salvando o atletismo brasileiro de passar em branco nos Jogos de Atenas.
“Acho que mostrei garra, determinação, como o soldado grego”, disse, emocionado, se comparando ao grego Feidípedes.
O terceiro lugar acabou transformando Vanderlei Cordeiro em herói nacional e exemplo de espírito esportivo. Além do bronze, também recebeu a Medalha Pierre de Coubertin, concedida pelo Comitê Olímpico Internacional para atletas que valorizam a competição olímpica além da simples vitória.
Depois de Atenas, Vanderlei virou celebridade e foi reverenciado no Brasil e ao redor do mundo. No fim do ano, o Comitê Olímpico Brasileiro o elegeu “Atleta Brasileiro de 2004”, em festa que contou com a presença do simpático grego Polyvios Kossivas, o homem que o tirou das garras de Cornelius Horan.
Ele encerrou a carreira em 2009, após disputar a Maratona de Paris.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Veja o momento em que Cornelius Horan agarra Vanderlei Cordeiro:
Fontes: