Crosby, Stills & Nash lançam o primeiro álbum

Há 45 anos… dia 29 de maio de 1969.

Crosby, Stills & Nash lançam o primeiro álbum

O grupo do cada um na sua

POR WALTERSON SARDENBERG Sº* 

Foi culpa da Joni Mitchell. Sim, a cantora, compositora e artista plástica canadense. Joni andava de enrosco com o inglês Graham Nash, do grupo Hollies, e o chamou para passar uns dias na casa dela, na Califórnia, em 1969. Na época, costumava receber vários músicos para cantorias que se prolongavam madrugada adentro. Numa dessas noites, Nash fez uma descontraída jam session com David Crosby e Stephen Stills. Mama Cass, a grande cantora — e também cantora grande — do The Mamas & The Papas, estava presente. Mas ficou calada quando notou, surpresa e extasiada, o quanto as vozes de Nash, Crosby e Stills se casavam. De improviso, os três faziam harmonizações irretocáveis, diabólicas, capazes de deixar os Beach Boys no chinelo — ou, melhor, na sandália de surfista.

Nash, Crosby e Stills também se assombraram — e se entusiasmaram. Nos dias seguintes, não deu outra: voltaram a se encontrar para cantar, juntos, canções do repertório de cada um. Claro que Joni e outros amigos fizeram a constatação mais óbvia da história: os caras tinham de formar um grupo, ora essa. Melhor ainda se tocassem os próprios violões e sem muitas firulas, sem guitarras distorcidas, psicodelismo ou outros modismos de então.

Àquela altura, falar em grupo com Crosby, Stills e Nash, no entanto, provocava urticárias. Para dizer o mínimo. Crosby havia brigado com Roger McGuinn, enquanto a banda deles, os Byrds, gravava o álbum The Notorious Byrds Brothers. Briga feia, aliás. Foi tamanho o quiproquó que, quando o disco saiu, a cara de um cavalo ocupou o espaço onde deveria estar o rosto de Crosby. Pior que xingar a mãe.

Nash também andava insatisfeito com a trilha tomada pelos Hollies, no seu entender muito comerciais. Não via a hora de pular fora e começar uma carreira sozinho. Além disso, andava louco para morar nos Estados Unidos. Stills, por sua vez, havia posto o ponto final em seu grupo, o Buffalo Springfield, e também pensava em carreira solo. Na época, curtia o sucesso do disco que dividira com o organista, produtor e cantor Al Kooper, Super Session. Dividir é bem a palavra. Stills só tocara em um lado do LP — vale a pena ouvir o que ele faz com o pedal wah-wah, recorrendo a requintes de sutileza, na faixa “Season of the Witch”. No outro, Kooper se unira a outro tremendo guitarrista, Mike Bloomfield.

As harmonizações de Crosby, Stills e Nash, seja como for, davam tantas alegrias ao trio que, embora com um pé atrás, os três decidiram se unir e gravar um disco. Para que a personalidade de um não anulasse a dos demais, resolveram, escaldados, manter intato o estilo de cada um. Os outros apenas se uniriam nos vocais. Dessa forma, as composições continuariam individuais, com a marca pessoal. Deixaram isso claro já no nome escolhido para o grupo: Crosby, Stills & Nash. Isso queria dizer que estavam, ao mesmo tempo juntos, e cada um na sua.

Stills sempre teve uma pegada mais roqueira e latina. É o que aparece na faixa de abertura, “Suite: Judy Blue Eyes”, de sua autoria, uma homenagem aos olhos azuis da cantora Judy Collins, então namoradinha do compositor. Nash ficaria conhecido pelas canções brejeiras em que exalta o modo de vida hippie. É o que acontece na sua “Marrakesh Express”, sobre um trem que percorre o Marrocos. Muito mais denso e dramático, e sempre encucado com os rumos da política americana, David Crosby trata, em “Long Time Gone”, da morte do senador democrata Robert Kennedy, assassinado ali mesmo, na Califórnia. Das dez faixas do disco, quatro são de Stills, duas de Crosby e três de Nash. Há uma única canção de três autores, “Wooden Ships”, de Stills, Crosby e de Paul Kantner, um dos fundadores do Jefferson Airplane.

Nos arranjos, Nash toca violão em poucas faixas, e Crosby aparece na guitarra ritmo. É Stills, de fato, o maior responsável pelo trabalho instrumental. Ele comparece com guitarras, teclados e até mesmo com o baixo elétrico. Dallas Taylor toca bateria em nove das canções. Já Jim Gordon assume as baquetas na bicho-grilo “Marrakesh Express”. Logo ele que teria um futuro nada hippie: em 1983, o parceiro de Eric Clapton em “Layla” matou a mãe a marretadas, durante um surto psicótico.

Considerado um marco, o disco de estreia do trio lançou o folk-rock adiante, com harmonias vocais como jamais se ouvira no gênero e um clima descontraído, que já começa na capa. Crosby, Stills & Nash posaram para o fotógrafo Henry Diltz no terraço de uma casa abandonada. Ficava na Avenida Palm, em West Hollywood, diante de um lava-rápido. Meses depois, agregariam mais um: Neil Young, ex-companheiro de Stills no Buffalo Springfield. Viraram Crosby, Stills, Nash & Young, formação que, aliás, fez sua estreia em Woodstock.

O esquema “juntos-mas-cada-um-na-sua” influenciaria o nome e a atitude de grupos e mais grupos pelo mundo afora: Sá, Rodrix & Guarabyra; Paulo, Cláudio & Marcelo; Souther, Hillman & Furay; Lanny, Tutti, Bruce & Perna; Beck, Bogert & Appice; West, Bruce & Laing e Phanton, Rocker & Slick, para ficar em alguns.

Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.

* Walterson Sardenberg Sº, jornalista, gosta de dizer que nasceu na mais importante data do rock: 6 de julho de 1957. Foi o dia em que John Lennon e Paul McCartney se conheceram. Na véspera, Pelé fez sua estreia na Seleção, marcando um gol contra a Argentina. Infelizmente, o Brasil perdeu por 2 a 1.

Ouça Crosby, Stills & Nash:

Fontes:

– Wikipedia

3 comentários sobre “Crosby, Stills & Nash lançam o primeiro álbum

  1. Obrigado pela mensagem, caro Menegon. Aqui é Fernando, editor e criador do blog!
    Segue a resposta do Berg, autor do texto, e que autoriza o uso para o seu programa!:
    Obrigado pelos elogios, Menegon. Programas como o seu são importantes para mostrar às novas gerações que a história do rock já tem vários volumes — e que alguns são pouco lembrados. Abraço!

  2. Sou Luiz Carlos Menegon, proprietário do blog Venenos do Rock e apresentado e produtor do programa ROCK N ROLL GOLDMINE. Muito bom seu relato e a história contada com bom humor e que faz com que o leitor não desgrude até o fim,,,muito legal!!! Amigo, com sua permissão, e com os devidos créditos, gostaria de usar parte de seu texto no meu programa ROCK N ROLL GOLDMINE na RST Rádio Rock, onde vou falar sobre os 48 anos de lançamento desse álbum. Se não tiver nenhuma objeção gostaria de usar parte de seu texto pra isso. Abraços e parabéns pelo trabalho em prol do bom e velho rock n roll!!

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