30 de maio de 1814
POR BRUNO FIUZA*
Quando Mikhail Alexandrovitch Bakunin veio ao mundo, nada indicava que se tornaria um dos pais do anarquismo. Nascido em 30 de maio de 1814, na cidade russa de Premukhino, era o filho mais velho de uma família da nobreza local. Aos 15 anos entrou para o serviço militar e, aos 18, foi mandado como oficial do exército russo para as províncias de Minsk e Grodno, na Polônia. Na época, a região estava sob domínio russo e Bakunin viu o terror provocado na população local pelas tropas do czar, o que o levou a abandonar o exército.
Aos 20 anos, se estabeleceu em Moscou, onde começou a estudar filosofia. Fascinado pelo pensamento do alemão Friedrich Hegel, em 1840 partiu para a Alemanha para aprofundar seus estudos. Depois de uma breve passagem por Berlim, rumou para Dresden, onde passou a frequentar os círculos revolucionários. Obrigado a fugir em 1843, passou por Berna antes de se fixar em Paris, em 1844, ano em que teve seu título de nobreza cassado pelo governo russo.
A capital francesa era o centro da atividade revolucionária em toda a Europa e Bakunin logo entrou em contato com as duas principais figuras ligadas ao nascente movimento operário: o francês Pierre-Joseph Proudhon e o alemão Karl Marx. Naquela época ainda não existiam comunistas e anarquistas, e todos esses revolucionários se consideravam simplesmente socialistas.
Expulso da França por ordem do embaixador russo em 1847, Bakunin se refugiou na Bélgica. Em 1848, ano em que a Europa foi varrida por uma onda de revoluções, participou de um levante dos tchecos de Praga contra o domínio austro-húngaro. O movimento foi sufocado e Bakunin se refugiou na Alemanha, onde liderou rebelião popular em Dresden, em maio de 1849.
Enquanto lutava ao lado dos alemães, no entanto, acabou preso e passaria os oito anos seguintes atrás das grades, até ser condenado ao exílio perpétuo na Sibéria, em 1857. De lá, o revolucionário traçou um plano de fuga que o faria dar a volta ao mundo: escapando da vigilância, em junho de 1861 embarcou em um navio americano que o levou a Nova York, de onde tomou outro navio para Londres, desembarcando na capital inglesa em dezembro daquele ano.
De volta à Europa, Bakunin passou a recrutar homens de vários países para formar, em 1864, uma organização secreta de revolucionários chamada Fraternidade Internacional, que em 1868 se transformaria na Aliança da Democracia Socialista. Foi nessa época que Bakunin aderiu de fato ao anarquismo, como fica claro na declaração de princípios da nova organização: “A Aliança se declara ateia; ela busca a completa e definitiva abolição das classes e a igualdade política, econômica e social para ambos os sexos. Ela quer que a terra e os instrumentos de trabalho (…) sejam convertidos na propriedade coletiva de toda a sociedade para a utilização dos trabalhadores (…). Ela afirma que todos os Estados (…) devem ser substituídos por uma união mundial de associações livres, tanto industriais como agrícolas”.
A Aliança foi oficialmente dissolvida no ano seguinte, quando Bakunin e seus companheiros ingressaram na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), que havia sido criada em 1864. Entre os fundadores da Internacional estava Karl Marx, defensor de um tipo de socialismo no qual os trabalhadores deveriam tomar o poder e instituir uma ditadura do proletariado. Logo surgiu um racha entre os seguidores de Marx e de Bakunin dentro da Internacional.
As desavenças foram se aprofundando até que, em 1872, um congresso da Internacional dominado por marxistas realizado em Haia, na Holanda, decidiu pela expulsão de Bakunin. Poucos dias depois, seus apoiadores realizaram outro congresso, em St. Imier, na Suíça, anulando as decisões do congresso de Haia.
Os dois congressos marcaram a cisão definitiva da Associação Internacional dos Trabalhadores e a consolidação de dois tipos diferentes de socialismo: de um lado, o marxismo; de outro, o anarquismo. Depois do racha, Bakunin se retirou da vida pública e foi morar na Suíça, onde morreu, no dia 1 de julho de 1876.
* Bruno Fiuza é jornalista e historiador. Foi editor da revista História Viva e atualmente desenvolve pesquisa de mestrado sobre o movimento antiglobalização no programa de história econômica da USP.
Palestra do sociólogo Selmo Nascimento da Silva sobre a vida e o pensamento de Bakunin:
Fontes: