Fluminense é campeão brasileiro

Há 30 anos… dia 27 de maio de 1984.

Fluminense é campeão brasileiro

POR RODRIGO MATTAR*

No último domingo de maio de 1984, 128.781 torcedores lotaram o Maracanã para o segundo jogo da decisão do Campeonato Brasileiro. Fluminense e Vasco protagonizaram a primeira decisão exclusivamente com times do Rio de Janeiro. E o tricolor, com um empate sem gols, consagrou-se, com merecimento, campeão nacional pela segunda vez – já que todos os torcedores consideravam a Taça de Prata de 1970 um verdadeiro campeonato brasileiro, legitimado pela CBF em 2010.

Naquele tempo, as decisões eram em duas partidas. Quatro dias antes, em 23 de maio, um gol do paraguaio Julio César Romero, o Romerito, selava o destino de uma competição em que o Fluminense foi praticamente perfeito. Foram apenas duas derrotas em 26 partidas. Apenas 13 gols sofridos pela inexpugnável defesa tricolor formada por Paulo Victor no gol, Aldo e Branco nas laterais, Ricardo Gomes e Duílio no miolo de zaga.

Foi uma conquista que se desenhou a partir do bendito gol de Benedito de Assis Silva, o eterno “carrasco” do Flamengo. Em 1983, aos 45 do segundo tempo, no apagar das luzes, ele silenciou a torcida do Clube de Regatas e deu aos tricolores um título ansiado, o do Carioca. Era a ressurreição da mística em finais contra o eterno rival, que até ali só tinha vencido o Flu em decisões duas vezes, em 1963 e 1972. Naquele tempo, a posição dos Estaduais definia os classificados do Brasileiro e o Flu entrou junto com o Flamengo, o Botafogo, o Bangu e o América, não necessariamente nessa ordem.

O Vasco foi um pífio 7º colocado no Estadual de 83 – atrás até do Americano de Campos. Mas conseguiu um convite da CBF e foi incluído entre os clubes participantes do Brasileiro. O Grêmio, 3º colocado do Gauchão após levar um sonoro 4 x 0 do Brasil de Pelotas, também.

O Fluminense começou vacilante num grupo com Santos, Ferroviário (CE), ABC (RN) e Confiança (SE). Empatou duas vezes e perdeu uma, justamente quando já estava classificado, para o Santos, no Maracanã. Mas com 12 pontos somados em oito jogos, terminou em segundo no seu grupo e avançou bem à segunda fase, sem precisar da repescagem.

Enquanto o clube se preparava para a segunda fase, em que enfrentaria Goiás, São Paulo e Bahia, a diretoria fazia uma negociação em paralelo para contratar Romerito, então no Cosmos (EUA), e que seria o jogador perfeito para o esquema tático do Fluminense. Era um time sem estrelas, mas eficiente e competitivo. Carlos Alberto Torres intermediou o negócio e as diretorias dos dois clubes se entenderam. Mas Romerito demoraria um pouco para estrear…

Enquanto isso, na segunda fase, o Flu trucidou o São Paulo no Morumbi, o Bahia e o Goiás no Maracanã. Empatou mais duas partidas e perdeu para o Goiás num jogo em que o árbitro, um certo Tito Rodrigues, quis ser a estrela máxima do espetáculo. Mesmo expulsando dois jogadores do time carioca, nada adiantou: o Goiás venceu por 3 a 0, mas o Flu estava já classificado e o clube do Planalto Central também avançou de fase.

Na terceira parte do Brasileirão, aí sim Romerito teria condições de jogo. E eu estive no Maracanã para acompanhar a estreia do paraguaio. O então treinador, Carbone, escalou-o fora de posição, como centroavante. O Flu só venceu o valente time do Santo André com um gol chorado aos 32 do segundo tempo, marcado por Wilsinho, o “Xodó da Vovó”.

Depois, o time empatou com o Operário de Campo Grande (MS), resultado que não foi bem aceito pela diretoria. O vice de futebol, Antônio Castro Gil, entrou em rota de colisão com Carbone, que foi demitido. Após uma rápida negociação, o Fluminense trazia Carlos Alberto Parreira, que não fora bem na seleção brasileira em 1983.

A sintonia e a sinergia foram incríveis. Parreira encontrou a posição ideal de Romerito em campo: o paraguaio passou a atuar como um quarto homem de meio-campo, com muita movimentação na frente, auxiliando Washington e Tato e também Assis, facilitando a tarefa de Deley, o cérebro do time. A partir daí, ninguém mais pôde conter o Fluminense.

Classificado sem problemas para as quartas-de-final, o Flu enfrentou o voluntarioso time do Coritiba. Um 2 x 2 na ida não refletiu a superioridade do time carioca sobre o adversário, que só avançara pela repescagem às fases seguintes, mas tinha méritos. O tricolor não teve dúvidas e sapecou um 5 a 0 que aniquilou o adversário. Próxima vítima: Corinthians.

Corinthians… entalado na garganta dos tricolores porque em 1976 um limitado time, em que jogavam Ruço, Geraldão, Basílio, Moisés, Tobias e outros, eliminou a chamada “Máquina” de Renato, Edinho, Miguel, Carlos Alberto Torres, Rodrigues Neto, Pintinho, Kléber, Rivellino, Gil, Doval e Dirceu. Uma constelação que jamais experimentaria o gosto de um título nacional.

O Fluminense não tomou conhecimento do alvinegro de Parque São Jorge. Numa exibição monumental, fez 2 x 0 diante de 90 mil torcedores que lotavam o Morumbi. Em êxtase, 110 mil torcedores comemoraram a justíssima classificação para a decisão no jogo de volta, embora os tricolores ansiassem por enfrentar o Flamengo – trucidado pelo Corinthians –, numa semifinal que seria histórica.

No outro lado da chave, o Vasco bateu o Grêmio e credenciou-se para a decisão vencida pelo tricolor. Como diz um conhecido, a verdadeira “Máquina” é o time tricampeão carioca de 83 a 85 e campeão brasileiro de 1984.

Tendo a acreditar que ele tem toda razão.

*Rodrigo Mattar, 43 anos, jornalista, comentarista de automobilismo no Fox Sports e torcedor do Fluminense, acompanhou toda a saga do time campeão de 1984.

Veja o gol de Romerito no primeiro jogo da final de 1984:

Fontes:

Wikipedia

futpedia.globo.com

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