Há 10 anos… dia 22 de maio de 2004.
“O que vocês fizeram? Foi pra zoar com a minha cara, não foi?”
Foram as palavras de Michael Moore após Quentin Tarantino anunciar a máxima honraria de Cannes, a Palma de Ouro, para o documentário “Fahrenheit 9/11”. Perplexo, mas brincalhão, bem do seu jeito, Moore recebeu o prêmio, sob fervorosos e entusiasmados aplausos no Grand Théâtre Lumière.
Há de se entender a perplexidade do diretor americano. Somente em três ocasiões a láurea máxima do tradicional festival francês foi destinada a documentários. O último condecorado tinha sido “The Silent World”, dirigido por Jacques Cousteau e Louis Malle, em 1956.
Uma semana antes, a longa ovação em massa dos presentes após a exibição do filme indicava um possível prêmio. Mas como Cannes não tem a tradição de contemplar trabalhos de não-ficção, a dúvida pairava no ar. Interrogação desfeita ao anúncio entusiasmado de Tarantino, o presidente do júri.
“Não tinha a intenção de fazer um filme político. Quis oferecer às pessoas uma boa maneira de passar duas horas”, disse Moore, em concorrida coletiva após a cerimônia de premiação. E cutucou, claro: “Espero ansiosamente a Fox News e outros meios de comunicação de direita rotularem o fato como um prêmio de franceses”, ironizou, lembrando que quatro dos jurados eram americanos. “Se quiser adicionar Tilda, então você pode dizer que mais da metade do júri é da coalizão”, completou, referindo-se à atriz britânica Tilda Swinton e à aliança entre Estados Unidos e Grã-Bretanha na Guerra do Iraque.
Naquele momento, os Estados Unidos já pegavam fogo com a aproximação das eleições. Apesar de não ter distribuidora para exibi-lo nos EUA, o filme de Moore provocava discussões acaloradas em torno da administração Bush e do pleito de novembro.
George W. Bush acabou reeleito, batendo o democrata John Kerry.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Assista “Fahrenheit 9/11”:
Fontes:
– IMDb