Há 1 ano… dia 28 de abril de 2013.
Zoólogo, depois compositor.
Primeiro, a Ciência. Depois, a Música.
Paulo Vanzolini dedicou 89 anos de vida à sua grande paixão, a Zoologia. Entre um estudo e outro, uma pesquisa e outra, havia a música, em especial o samba.
“Não tenho carreira de compositor. Música, pra mim, é um hobby. Trabalho 15 horas por dia como zoólogo, adoro minha profissão. Não sei cantar, nem sei a diferença entre o tom maior e o menor”, disse, em entrevista à Folha, em 1997.
Doutor em Harvard, diretor e pesquisador do Museu de Zoologia da USP – especialista em répteis -, professor emérito da maior universidade do País, ele foi um “cientista do samba”, como bem definiu Jotabê Medeiros, em obituário no Estadão. Era um intelectual entre os sambistas, reforçou Medeiros.
Paulistano de quatro costados, como se dizia antigamente, Paulo Emílio Vanzolini nasceu no Cambuci, em 25 de abril de 1924. Dos quatro aos seis anos, morou no Rio. O gosto pelo samba veio cedo, pelas ondas do rádio. Entrou em medicina na USP em 1942 e, antes de terminar o curso, já iniciou a carreira de pesquisador no Museu de Zoologia.
E lá ficou por mais de 50 anos. Em 1993, teve aposentadoria compulsória, mas continuou frequentando o Museu todos os dias. “Um dia eu nasci e já era zoólogo!”, brincou, em entrevista à revista Scientific American Brasil.
A música vinha nos intervalos, na boemia, devagar e sempre. Menino, já gostava de samba. O doutorado em Harvard, no final dos anos 1940, o aproximou do jazz americano. Em 1951, compôs a sua primeira canção, certamente a mais famosa.
De noite eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar.
Gravada dois anos depois, em 1953, “Ronda” foi sucesso imediato na voz da amiga Inezita Barroso. Depois, regravada por diversos nomes da MPB, como Nelson Gonçalves, Alcione, Jamelão, Maria Bethânia, entre muitos outros.
Caetano praticamente plagiou a melodia quando compôs “Sampa”.
“Uma música é considerada plágio quando tem oito compassos de outra. ‘Sampa’ tem 14 compassos de ‘Ronda’. É uma citação”, disse Vanzolini, que não se importava com a “cópia atualizada” de Caetano. Apesar do êxito, não gostava de “Ronda”, composta sob inspiração de seus tempos de soldado do Exército na Companhia de Polícia, em que fazia rondas noturnas por São Paulo.
Outra música famosa é “Volta por Cima”, sucesso na voz de Noite Ilustrada, lançada 10 anos depois de “Ronda”.
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima
“Boca da Noite” é outra famosa, parceria de Toquinho, com uma linda letra de amor, despedida e saudade.
A música em segundo plano e a mania pela perfeição fizeram Vanzolini ter obra enxuta, porém relevante: pouco menos de 70 músicas. Em 2003, a gravadora Biscoito Fino lançou quatro discos com 52 canções dele, ou seja, quase a obra toda.
A vida do músico Vanzolini foi retratada no documentário “Um Homem de Moral”, de Ricardo Dias. O diretor também explorou o lado zoólogo de Vanzolini em dois filmes lançados anteriormente.
Há 1 ano, o coração do “cientista do samba” parou. Paulo Vanzolini morreu devido a complicações relacionadas à pneumonia. Deixou a mulher, a cantora Ana Bernardo, cinco filhos, a cervejinha e a boemia paulistana de que tanto gostava.
E, claro, a zoologia.
Trailer do documentário “Um Homem de Moral”, de Ricardo Dias:
Fontes:
– Estadão
– Veja