Há 50 anos… dia 17 de abril de 1964.
Pouco antes de a costa desaparecer e o horizonte se tornar mar e céu, Jerrie Mock ligou o rádio de longo alcance de seu avião e encontrou apenas silêncio. Tentou mais uma vez, duas, três, aproximando o ouvido do alto-falante, e ainda assim não ouviu nada, nem mesmo estática.
Quando Mock partiu de Columbus naquela manhã, ouviu a voz do controlador da torre no alto-falante. “Bem, eu acho que é a última vez que nós vamos ouvir falar dela”, disse à multidão reunida para vê-la partir para as Bermudas. Claro, ele estava brincando, mas suas palavras tinham um fundo de verdade.
“Aquela manhã” era a do dia 19 de março de 1954.
Vinte e nove dias, 11 horas e 59 minutos depois, Geraldine “Jerrie” Fredritz Mock aterrissou o seu Spirit of Columbus – um Cessna 180, modelo de 1953, de um motor – naquela mesma pista do aeroporto da capital de Ohio e entrou para história como a primeira mulher a cruzar o mundo a bordo de um avião. Sozinha.
Em ótima reportagem publicada no BuzzFeed (leia abaixo), Amy Saunders relembra o 50º aniversário do feito e revela as dificuldades e os bastidores da solitária jornada de Jerrie Mock. A maior barreira? A julgar pelos parágrafos iniciais da matéria o grande inimigo foi um mal enfrentado até hoje pelas mulheres: o preconceito.
Mas a paixão por voar fez Jerrie superar qualquer obstáculo. Um voo de 15 minutos a bordo de um Ford Trimotor foi o suficiente para a menina de apenas 5 anos se arrebatar completamente.
Anos depois, estudou e se formou engenheira aeronáutica em Ohio State. O sonho de pilotar seria brevemente colocado em segundo plano com o casamento e a maternidade. Retomou o estudo aos 31 anos, teve aulas de voo e conseguiu certificado de piloto dois anos depois, em 1958. Em 1962, Jerrie acumulara 700 horas de voo, mas sem experiência sobre as águas.
Certo dia, vendo a mulher entediada, o marido brincou: “Por que você não dá a volta ao mundo voando?”. Jerrie levou a brincadeira a sério, amou a ideia e começou a planejar a viagem em 1962. Durante 15 meses, preparou o avião para a aventura, deixando a máquina com autonomia de 25 horas de voo.
Então, durante quase 1 mês, Jerrie passou por 18 cidades diferentes até retornar a Columbus. Além de ser a primeira mulher a atravessar o mundo a bordo de um avião, obteve outras marcas, como a primeira a voar pelo Atlântico e Pacífico.
Jerrie Mock recebeu várias condecorações e prêmios pelo feito, como a medalha da Agência Federal de Aviação (Federal Aviation Agency – FAA, em inglês), das mãos do presidente Lyndon Johnson.
Na época, houve até uma espécie de competição entre Mock e Joan Merriam Smith, pilota profissional que completaria a volta ao mundo no dia 8 de maio – história presente na reportagem de Saunders.
Em 1983, Sally Ride entraria na história como a primeira mulher no Espaço.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Veja vídeo da Columbus Foundation em homenagem a Jerrie Mock:
Fontes:
– faa.gov