Há 90 anos… dia 21 de janeiro de 1924.
POR BRUNO FIUZA*
Há 90 anos, morria o homem que ensinou o mundo a fazer política no século XX. Seu nome de batismo era Vladimir Ilych Ulyanov, mas ele entrou para a história simplesmente como Lênin.
Vladimir nasceu em 1870, em família que havia acabado de entrar para a nobreza da Rússia czarista. Seus pais não tinham nenhuma ligação com a militância política e ele cresceu em ambiente típico da elite russa. Tudo começou a mudar quando ele viu o pai morrer, em 1886, e seu irmão, Alexander, ser executado no ano seguinte, após se envolver com um grupo revolucionário que planejava um atentado contra o Czar Alexandre II.
A morte do irmão marcou Lênin profundamente: por um lado, despertou seu interesse pelas ideias revolucionárias que ganhavam força na Rússia da época; por outro, o ensinou que a transformação da sociedade não viria com ações de sabotagem de pequenos grupos clandestinos. Só as massas poderiam fazer a revolução.
Movido por essa convicção, dedicou sua vida à organização dos trabalhadores da Rússia e à construção de um partido marxista de massas que fosse capaz de derrubar o decrépito absolutismo czarista. Entre os grandes impérios europeus no século XIX, a Rússia era o mais atrasado em termos de economia, política e organização social. Foi o último país europeu a abolir a servidão rural (o que só aconteceu em 1861), tinha boa parte da economia ainda baseada na agricultura – enquanto seus vizinhos já eram potências industriais – e era governado por uma monarquia que não aceitava sequer a existência de um parlamento.
Como um típico império em decadência, o governo russo se mantinha graças à repressão. E foi para enfrentar um Estado cada vez mais autoritário que Lênin criou uma concepção de partido para agir como uma máquina de guerra: seus militantes deveriam ter uma disciplina militar, o comando deveria ser absolutamente centralizado e responsável por transformar decisões coletivas em ordens a serem cumpridas, custe o que custasse, e sua base deveria ser formada por uma multidão de trabalhadores capazes de agir como um exército a conquistar a cidadela do inimigo (o Estado burguês) quando a ocasião se apresentasse. Foram estas concepções que Lênin se esforçou para implantar no Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), fundado em 1898.
O detalhe é que, durante a maior parte de sua vida, Lênin teve que divulgar suas ideias do exterior. Em 1887, ele entrou no curso de direito da Universidade de Kazan e logo se tornou um militante socialista. Participando ativamente das mobilizações contra o governo czarista, foi cada vez mais perseguido, até ser preso e se exilar, em 1900. Nos cinco anos seguintes, morou em Munique e Londres, até se estabelecer em Genebra. Do exterior, editou o jornal Iskra, o principal veículo das ideias sobre organização política de Lênin.
De volta à Rússia para participar da tentativa de revolução de 1905, foi obrigado a deixar o país novamente, em 1907, e só retornaria à sua terra natal dez anos depois, após a chamada Revolução de Fevereiro. Nesse meio tempo, a concepção organizativa de Lênin conquistou o apoio de uma importante parcela do POSDR, criando dois grupos no interior da instituição. Os apoiadores de Lênin eram os Bolcheviques (“maioria”, em russo); seus adversários, os Mancheviques (“minoria”).
A Revolução de Fevereiro de 1917 derrubou a monarquia czarista e levou ao poder um governo dominado pelos Mencheviques. Lênin sabia que não bastava acabar com a monarquia e estabelecer uma democracia parlamentar na Rússia. Era preciso criar um governo dos trabalhadores. Foi com isso em mente que ele redigiu as chamadas “Teses de Abril”, que se tornaram o programa do Partido Bolchevique.
Com base nesse programa, organizou os trabalhadores para derrubar o novo governo, o que aconteceu com a tomada do Palácio de Inverno, em Outubro de 1917. Pela primeira vez na história, a classe trabalhadora tomava o poder em um país. Em 1922, a “nova” nação foi batizada de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (USSR).
Lênin, porém, não viveu muito para ver o Estado que ajudou a criar. Depois de uma cirurgia, em 1922, seu estado de saúde começou a piorar até a sua morte, em 21 de janeiro de 1924. Embalsamado, seu corpo está guardado até hoje em um mausoléu na Praça Vermelha, em Moscou.
Após sua morte, a União Soviética passou a ser governada com mão de ferro por Stalin, que deturpou muitas das ideias originais de Lênin. O grande legado de Vladimir Ulyanov, no entanto, não foi o Estado burocratizado e autoritário criado pelo stalinismo, mas sim a invenção da política de massas. Foi ele quem descobriu que, com o crescimento e o fortalecimento da classe trabalhadora, a disputa partidária só seria comandada por àqueles que soubessem como conquistar os corações e as mentes das multidões. E esta lição foi aprendida por todos os políticos que viveram depois dele, independentemente da orientação ideológica.
Lênin ensinou o mundo a fazer política.
* Bruno Fiuza é jornalista e mestrando em história econômica pela USP.
Veja documentário sobre a vida de Lênin:
Fontes:
Tenho em mim o ódio pelo que Lênin fez com os Romanov’s.
Decerto, a autocracia russa judiava bastante com os russos.
Mas a família inteira não merecia ter morrido;
O texto é do Bruno Fiuza!
Ele merece os créditos!
Beijo,
Fê.
Parabéns vc se superou, Fernando.
Vovó Dedé