Há 10 anos… dia 9 de janeiro de 2004.
“Eu considerava ele um sujeito que sempre pensou além de seu tempo. Audacioso, não se importava em brigar com dez, 20, para levar sua obra adiante. É um cineasta que procurava se modernizar e avançar. Ele brincava comigo que no cinema brasileiro só havia dois criadores, ele e eu. O resultado é que em todo lugar do mundo que vou me perguntam sobre ele.”
À Folha de S. Paulo, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, falou sobre o amigo Rogério Sganzerla, que partiu há 10 anos, vítima de câncer no cérebro. Tinha 57 anos.
Sganzerla foi um criador à frente do seu tempo, de fato. Inovou na estética, na câmera, no som, na direção dos atores. Bebeu da fonte de Jean Luc Godard, Orson Welles, Samuel Fuller e Glauber Rocha, usou a linguagem do rádio, se inspirou na chanchada dos anos 1940 e até nos quadrinhos.
Seu primeiro e mais importante filme, “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) – ficção com inspiração em João Acácio Pereira, criminoso que usava uma lanterna vermelha em seus assaltos, nos anos 1960, em São Paulo -, lançou o movimento do Cinema Marginal.
“O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nosssa sociedade, da nossa estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa, o som fugidio, os personagens medrosos. Nesse país tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento”, diz o manifesto do movimento, divulgado na época do lançamento do longa-metragem, que ele definiu como um “faroeste do Terceiro Mundo”.
O Cinema Marginal surgiu na Boca do Lixo de São Paulo. Ali, havia diversas pequenas produtoras que realizavam cinema com muito experimentalismo e pouca grana. Além de “O Bandido da Luz Vermelha”, “A Margem” (1966), de Ozualdo Candeias, foi o outro marco do movimento.
Apesar do sucesso absoluto de crítica e bilheteria, a estreia foi uma das poucas exceções de êxito comercial de Sganzerla. “A Mulher de Todos” (1970), protagonizado por sua mulher, Helena Ignez, também teve boa recepção.
Com o sucesso dos primeiros trabalhos, Sganzerla criou a produtora Belair, em parceria com Helena e o cineasta Júlio Bressane. Aprofundou a experimentação e a inovação e fez seis filmes em apenas seis meses, entre eles “Copacabana Mon Amour”, com trilha psicodélica de Gilberto Gil – “Yellow-green, green-yellow/Mr. Sganzerla!”.
No entanto, a ditadura militar matou a distribuição e exibição dos trabalhos da Belair, o que levou Sganzerla a se exilar em Londres. Isso não o impediu de seguir produzindo. No total, foram 30 filmes, entre longas e curtas-metragens, quatro deles sobre o diretor Orson Welles. O último, “O Signo do Caos” (2003), lançado pouco antes de sua morte, fechou a série sobre Welles e recebeu prêmio de Melhor Direção no Festival Brasileiro de Cinema de Brasília.
Viva Mr. Sganzerla!
Assista “O Bandido da Luz Vermelha”:
Fontes: