Ao lado de Nelita Abreu Rocha, entre 1962 e 1967, Vinicius exercita, desde o princípio, a difícil arte da fuga. Foge para a Europa, conhece o pleno sucesso internacional com “Garota de Ipanema”, atira para todos os lados – e, muitas vezes, para nenhum. A paixão pelo álcool se agrava, com as sequelas inevitáveis. Beber é, para ele, um modo de se tornar invisível. Nelita é uma moça bela, mas desprotegida (é a “menina com uma flor”), e o poeta, diante dela, se entrega ao descontrole e à onipotência. Começa, num cenário interior adequado aos tempos escuros implantados pelo regime militar de 64, uma temporada de escapes e subterfúgios, em que a paixão se torna, mais que nunca, uma forma de obsessão. Todos os raios desabam sobre Nelita. A fuga deve ser tomada, aqui, também sem seu sentido musical: a de variações repetitivas sobre um mesmo tema. O poeta, sem outros recursos, imita a si mesmo. Mas não perde o sentido da beleza.
Eis o resumo de José Castello sobre o quinto casamento de Vinicius de Moraes.
Com Nelita, uma mulher 30 anos mais jovem que ele, Vinicius foge.
Primeiro, literalmente, com a fuga cinematográfica do Brasil para a Europa, uma ideia despretensiosa de Carlinhos Lyra, abraçada com fervor pelo poeta e realizada com a ajuda dos amigos Tom Jobim, Otto Lara Resende e Fernando Sabino.
Depois, mergulhado no álcool e na fama de astro da música, Vinicius foge da realidade.
Em meio a tudo, uma jovem e frágil Nelita suporta, sozinha, as tempestades e inconstâncias da alma de Vinicius.
Mas a relação tem seus momentos sublimes, apesar dos pesares.
Momentos sublimes expressos em Para uma menina com uma flor e “Minha namorada”, duas obras-primas dedicadas à Nelita.
Mesmo na fuga, o amor sempre vence.
Fontes:
– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello