Há 65 anos… dia 30 de julho de 1948.
Na chegada, todo mundo imagina que depois de tamanho esforço, tendo lançado mão de recursos sobrenaturais, o diabólico Emil irá desabar. Nada disso. Ao contrário, ele começa a pular de alegria por todo o estádio, sai a passos curtos em busca de um copo d’água, volta trotando para o palanque dos vencedores, dá um cordial e respeitoso tapinha nas costas do experiente Heino e, em seguida, depois de algumas piruetas, acaba plantando uma bananeira em equilíbrio impecável, chegando até mesmo a correr com as mãos por alguns metros só para mudar um pouco.
Em Correr, o escritor francês Jean Echenoz conta a trajetória da “Locomotiva Humana”, o tcheco Emil Zatopek, o maior corredor de todos os tempos, segundo a conceituada revista americana Runner’s World.
O trecho acima mostra a consagração de Zatopek em Londres, a conquista da primeira de suas cinco medalhas olímpicas. Em 30 de julho de 1948, ele venceu os 10 mil metros, com o tempo de 29min59s (novo recorde olímpico), superando o francês Alain Mimoun em quase um minuto. O “experiente Heino” do texto é o finlandês Viljo Heino, que disparou no início, mas acabou não completando a prova.
Talvez, por causa do calor. De acordo com a descrição em Correr, “um calor intenso se abate sobre a cidade e, no dia em que Emil deve atuar nos dez mil metros, o ar está bem pesado, acachapante, um clima de tempestade que não se define. Uma névoa muito densa dilata o céu e forma, entre Sol e Terra, uma lupa gigantesca que provoca uma temperatura de quarenta graus à sombra.”
Compatriota de Paavo Nurmi, outra lenda do atletismo, Heino protagonizou com Zatopek uma disputa acirrada nos 10 mil metros, nos anos 1940 e 1950. Os dois se alternaram na quebra do recorde mundial da prova e se respeitavam demais.
Voltando à Londres-1948, aquela primeira medalha dourada de Emil Zatopek em Olimpíadas foi, também, a primeira de ouro da história do atletismo tcheco. Um feito que ele repetiria em Helsinque, quatro anos depois.
Aliás, na Finlândia, ele faria melhor. Além dos 10 mil, venceu os 5 mil metros, prova em que havia levado a prata em 1948, e a maratona, um feito até hoje inigualado.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Veja os melhores momentos de Emil Zatopek nas Olimpíadas de 1948 e 1952:
Fontes: