Há 75 anos… dia 24 de maio de 1942.

Bem antes que a composição encostasse junto à gare, Leônidas enfiou a cara redonda pela janela e tomou um susto. O que acabara de vislumbrar só se comparava, que se lembrasse, à partida da Seleção Brasileira, de navio, para a Copa de 1938, na França.
Um imenso mar de chapéus acinzentados e braços erguidos recortava o estreito horizonte da área de desembarque. Era noite e tudo parecia grandioso demais para suas próprias expectativas.
“Não lhe falei, Leo?”, observou o contente Sílvio Caldas. “São Paulo é uma terra abençoada que o fará renascer para o futebol.”
O fantástico preâmbulo assinado por Celso Kinjô em edição da Placar de 1983 se faz necessário para dimensionar o que foi a passagem de Leônidas da Silva pelo São Paulo Futebol Clube.
Já na monumental chegada à capital paulista, na antiga Estação do Norte, no Brás, em abril, um recado inequívoco da coletividade são-paulina ao craque vindo do Flamengo. O “Diamante Negro” seria ídolo mesmo antes de vestir as chuteiras e a camisa tricolor.
Na estreia, a idolatria antecipada se confirmaria de forma avassaladora.
Se em abril, na estação, tinham sido 10 mil, em 24 de maio de 1942, mais de 70 mil pessoas invadiram o Pacaembu, no maior público da História do mítico estádio (o Almanaque do São Paulo registra 70.281, enquanto o site oficial do clube acrescenta mil ao número).
Setenta ou setenta e um, pouco importa. O relevante, sim, foi o carinho e o acolhimento ao homem que mudaria o patamar do clube. Há um São Paulo antes de Leônidas da Silva e há um São Paulo depois de Leônidas da Silva.
Ele não mostraria todo o potencial logo na primeira partida, naquela tarde de outono com o Pacaembu abarrotado. Seria decisivo, sim, participando de dois dos três gols tricolores no empate contra o rival Corinthians. Mas longe de oferecer a genialidade habitual, que logo apareceria.
Houve quem se apressasse e visse ali, na primeira impressão, um retumbante fracasso. O jornal A Hora, por exemplo, notório diário sensacionalista da Pauliceia, estamparia na manhã seguinte: “São Paulo compra bonde de 200 contos”, em referência ao valor pago pelo jogador, uma fortuna à época.
A resposta viria rapidamente, já no jogo seguinte, com o primeiro gol marcado pelo São Paulo, em vitória por 4 a 2 sobre o Santos.
E a magia apareceria na sequência: uma senhora bicicleta que até apagou a derrota por 2 a 1 para o Palestra Itália, no mesmo Pacaembu. Para delírio de Geraldo José de Almeida, que, aos brados, exclamava: “O bonde de 200 contos fez um gol de bicicleta! O bonde de 200 contos fez um gol de bicicleta!”. Espetacular.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Programa da TV Cultura sobre Leônidas da Silva:
Fontes e +MAIS:
Mestre Gracindo,
Muito obrigado pelas palavras!
Uma honra!
Grande abraço,
Fernando
Matéria ESPETACULAR !!! Grande redator e genial pesquisador Fernando Mello !!!