“…hoje eu entendo que era somente o velho jogo de competição rolando”.
É, caro John. Era o mesmo velho jogo de competição entre você e Paul. O embate que tanto marcou a história dos Beatles e que tanto enriqueceu um ao outro. Por causa de Paul, John subia o sarrafo. Por causa de John, Paul queria ir mais alto.
Em Sgt. Pepper’s, a peleja ficou mais evidente. E, a despeito da comprovada liderança do companheiro, o rival artístico e intelectual, John teve seus momentos.
O que dizer de “A Day in the Life”, por exemplo? Para este escriba, a melhor do álbum.
O mais curioso é notar que, de todas as faixas, esta é, sem dúvida, resultado explícito e cabal da colaboração entre eles. Prova por A+B o que eles podiam fazer juntos.
A letra é (quase) toda de John, mas Paul contribui com a fantástica “canção dentro da canção”. As duas se encontram nos arranjos e na orquestração de George Martin, que também rege os músicos. Com a ajuda de Paul!
“Paul e eu estávamos definitivamente trabalhando juntos, especialmente em ‘A Day in the Life’… da maneira como escrevemos muitas vezes: você escrevia a parte boa, mais fácil, como ‘I read the news today’, ou o que quer que fosse, e depois ficava meio preso em algo difícil, e, em vez de continuar, deixava pra lá; então nos encontrávamos, eu cantava a metade, e ele se inspirava a escrever a próxima estrofe e vice-versa. Ele estava um pouco tímido a respeito dela porque pensava ser uma canção muito boa. Algumas vezes, não deixávamos um interferir no trabalho do outro, porque você tende a ser um tanto relaxado com as coisas dos outros, você experimenta muito. Então, estávamos fazendo aquilo em seu quarto com o piano. Ele dizia: ‘Vamos tentar isso?’ ‘Sim, vamos lá’”.
O trecho acima é da fortíssima entrevista de John à Jann Wenner, publicada em janeiro de 1971. Um papo em que ele solta o verbo contra os Beatles, principalmente sobre Paul, e abre a caixa de pandora a respeito do fim da banda. Em meio ao tiroteio, porém, há o reconhecimento da força produtiva da dupla Lennon/McCartney.
“A Day in the Life” está aí para provar. Mesmo com o início da hegemonia de Paul, existe a fenda para a cooperação.
Sgt. Pepper’s deve – e muito! – ao jogo dialético entre Paul e John, que ofereceria outras contribuições valiosíssimas para o disco, como a imortal “Lucy in the Sky with Diamonds”, a circense e inventiva “Being for the Benefit of Mr. Kite!” e a curiosa “Good Morning Good Morning”.
Falaremos mais de cada uma delas quando esmiuçarmos o track list.
Amanhã tem mais.
Fiquem com a gente!
P.S.: que música é “A Day in the Life”…!
Dica! → Clica em cima do selo para ver todos os posts do especial Sgt. Pepper’s 50!
Documentário “The Making of Sgt. Pepper”, de 1992:
Fontes e +MAIS:
– As letras dos Beatles – A história por trás das canções, de Hunter Davies
Caro Lautréamont,
Agradeço a crítica, por pouco construtiva que seja. Por que não propor algo positivo em vez de simplesmente destruir?
O espaço está aberto ao conteúdo de leitores. Longe de mim ser o dono da verdade. Bem ao contrário.
Somente penso que um comentário nesse tom não acrescenta. Por favor, “pense o espesso”, como você mesmo afirmou.
Agradeço o comentário e a audiência!
Espero vê-lo por aqui.
Abraço,
Fernando.
O cabra mobiliza todo um aparato terminológico arrevesado e obtuso, deslocado de campos semânticos específicos (“fenda”, “jogo dialético”, “hegemonia” etc), para vestir tão pouca substância… Falta pensar espesso, como a saliva e o esperma.