“Sgt. Pepper foi ideia de Paul, e eu me lembro dele trabalhando muito no disco e, de repente, me chamar para ir ao estúdio, dizendo que era hora de escrever algumas canções. Em Pepper, com a pressão de apenas 10 dias, consegui dar um jeito de aparecer com Lucy in the Sky e Day in the Life. Não estávamos nos comunicando o suficiente, né. E depois, foi o que mais me ressenti sobre tudo. Mas hoje eu entendo que era somente o velho jogo de competição rolando”.
A resposta de John a uma das questões de David Sheff, na lendária última entrevista publicada na Playboy americana em fins de 1980, dá a exata medida do comando de Paul em Sgt. Pepper’s. E também nos coloca a par do xadrez intelectual, mental e artístico que rolava dentro da dupla.
A partir dali, os Beatles passaram a ter um líder criativo. Paul tomou as rédeas artísticas da banda, em caminho sem volta. Ancorado pela sintonia com George Martin, levou o grupo para o lugar que projetou com a concepção do álbum.
Se a ideia sobre a fictícia banda do Sargento Pimenta foi dele, a execução se deu igualmente por suas vias. Do jeito que ele queria. Exagero e leviano afirmar que a liderança ao longo deste trabalho foi despótica ou coisa que o valha. Afinal, estamos falando de John Lennon, um cara que não iria aceitar passivamente um jugo sobre a sua criação.
Sem esquecer de George e de Ringo, o pacífico e o brincalhão, é verdade, mas que não suportariam uma hegemonia voraz de um sobre os outros. Tanto que não se submeteram futuramente… Mas isso é papo para outro dia.
Voltando ao papel de Paul no disco, é notória e nítida sua governança quando se analisa o track list.
Das 15 músicas (incluindo “Strawberry Fields Forever” + “Penny Lane”), ao menos 8 são só dele. Além da simpática canção sobre o ambiente da sua Liverpool e das duas faixas-título, “Getting Better”, “Fixing a Hole”, “She’s Leaving Home”, “When I’m Sixty-Four” e “Lovely Rita” têm o selo Macca de produção.
Sem falar em “With a Little Help From My Friends”, 95% dele – segundo o próprio John! -, e de sua participação em “A Day in the Life”, inclusive como “segundo maestro”, auxiliando George Martin na condução da orquestra.
A triste conclusão é que “Sgt. Pepper’s” foi o começo do fim. Os Beatles ficaram pequenos para tanto talento individual. E, afinal, o que fazer quando se chega ao topo do Everest?
Amanhã tem o papel de John na obra-prima dos Fab Four.
Até!
Em tempo: Ademais os motivos listados acima, há um outro, logístico, muito bem lembrado no ótimo As letras dos Beatles – A história por trás das canções, de Hunter Davies: Paul era o único residente do centro de Londres, com fácil acesso aos estúdios da EMI, em Abbey Road. Muitas das reuniões decisórias sobre o processo criativo do disco foram em sua casa, aliás. Cheers, Hunter.
Dica! → Clica em cima do selo para ver todos os posts do especial Sgt. Pepper’s 50!
Documentário “The Making of Sgt. Pepper”, de 1992:
Fontes e +MAIS:
– As letras dos Beatles – A história por trás das canções, de Hunter Davies
Obrigado, irmão!!!
Acompanhando de perto o especial !!!!
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