Há 50 anos… dia 8 de maio de 1967.
Ele já estava prestes a pendurar as chuteiras. Aos 40 anos, até ajudara o Real Madrid com alguns golzinhos na campanha vitoriosa de mais uma Liga dos Campeões, em 1966, e também na conquista da 12ª taça de La Liga, finalizada em 23 de abril de 1967.
O foco já era a vida fora das quatro linhas, do outro lado do balcão, como técnico.
No ínterim, por que não ajudar a quem precisa?
E lá foi Ferenc Puskas participar de um jogo beneficente em Liverpool!
Mas como o Major Galopante foi parar na Terra dos Beatles?
A iniciativa partiu do Bankfield House, centro comunitário em Garston, região que até hoje sofre com problemas socioeconômicos. Durante os anos 1960, a instituição ocasionalmente organizava eventos para arrecadar fundos.
Em 1967, o diretor Brian Taylor resolveu realizar uma partida beneficente de futebol. Para causar impacto, teve a ideia de trazer algum jogador famoso. O primeiro alvo: um tal de Edson Arantes do Nascimento.
Taylor enviou uma carta diretamente ao Santos. Uma semana depois, teve uma sincera resposta do clube brasileiro:
“Prezado Sr. Taylor, obrigado pela grande honra de convidar nosso Edson Arantes do Nascimento para o seu jogo beneficente. Infelizmente, precisamos dele para o nosso campeonato”.
Determinado, o diretor do Bankfield House partiu atrás de outra estrela do futebol, o húngaro Ferenc Puskas. Enviou telegrama para o Real Madrid, perguntando se o talentoso meia poderia ajudá-lo. “Nunca esperava uma resposta”, diria Taylor, tempos depois, rememorando a epopeia.

A réplica foi surpreendente. “Tudo o que preciso é da passagem de avião”, escreveu Puskas, para perplexidade completa de Taylor. Dias depois, o encontro entre eles, no aeroporto de Heathrow, em Londres. A recepção em Liverpool seria discreta, porém, calorosa. A real confraternização se daria no jogo, há exatos 50 anos.
Não foi em Anfield nem no Goodison Park.
O palco para o dia em que Puskas parou a cidade de Liverpool em um jogo beneficente não existe mais. Na verdade, até existe, mas não abriga partidas de futebol, e sim, viagens de trem e de ônibus. Ontem Holly Park, a orgulhosa casa do South Liverpool FC, hoje Liverpool South Parkway, estação ferroviária e rodoviária ao sul da cidade.
Uma massa de 10 mil pessoas lotou a diminuta casa do modesto clube para ver o húngaro em ação. Nomes de peso do futebol inglês, como Billy Liddell (do Liverpool, na foto cumprimentando Puskas), engrossaram a lista de atrações do jogo.
A pelota rolou e o veterano craque cumpriu o que dele se esperava. Fez um hat-trick e brilhou, apesar da derrota de seu time, o Puskas XI, por 5 a 3, para os locais, nomeados Liddell XI.
“O homem que costumava ser conhecido como o Major Galopante parecia um pouco mais grisalho do que nos dias em que era o craque da Hungria e ajudava o Real Madrid a monopolizar o campeonato de clubes da Europa. Mas ele também pareceu em forma”, pontuou o jornal Liverpool Echo.
Depois do jogo, que arrecadou mais de R$ 80 mil (atualizando para os dias atuais), Puskas se disse ainda disposto a jogar por mais um tempo, garantindo que não se aposentaria tão cedo.
Alguns meses depois, em julho, acabou pendurando as chuteiras e assumindo a prancheta. Seu primeiro trabalho seria no San Francisco Golden Gate Gales, de uma liga pequena nos EUA. A carreira de técnico não decolaria.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Fontes e +MAIS: