Há 40 anos… dia 20 de abril de 1977.
POR MARINA MELLO*
“A única certeza absoluta que o homem tem é que a vida não tem sentido.” – Tolstoi
Se a nossa mente pudesse ser conectada por um gravador e captássemos tudo o que se passa lá dentro, comporíamos mais ou menos um roteiro de um filme de Woody Allen. Ou seríamos a perfeita mistura das sinapses de Alvy Singer e Annie Hall.
“Annie Hall” – em português insolitamente traduzido por “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” – é, para mim, um dos melhores filmes do diretor. Não por ter competido a várias estatuetas do Oscar, mas, sim, por transbordar recursos cinematográficos e nos fazer deitar num enorme divã coletivo.
Logo no início do filme somos convidados a entrar na cabeça de Alvy e a investigar sua infância em Coney Island, mais precisamente debaixo de uma montanha-russa. Não é só uma metáfora. Semi-nauseados nos sentimos ao tentar acompanhar os altos e baixos do relacionamento de Annie e Alvy.
Ele é um humorista judeu, divorciado e quarentão, que faz análise há quinze anos. E ela é uma cantora insegura, em início de carreira. Como qualquer casal normal, tentam descobrir um ao outro e conviver com suas semelhanças e diferenças.
Logo na abertura, Alvy conta para a câmera o término de seu relacionamento, clamando por socorro. Tamanha é a empatia do outro lado da telona que ele parece ao nosso lado, pedindo conselhos a um velho amigo.
Então, nesse grande divã, tentamos superar juntos a crise conjugal dos dois, mesmo desconfiando que a química ali pode resultar em explosão nuclear.
Mas quem nunca insistiu num amor até finalmente enxergar a gigante nuvem de cogumelo?
* Marina Mello é cineasta. Mais do que apaixonada por cinema, é fascinada pelo poder que existe na fusão de som, texto e imagem.
Trechos
“Veja toda essa gente correndo, tentando evitar a inevitável decadência do corpo…. Talvez os poetas estejam certos, talvez o amor seja a resposta.”
“E Freud, aquele pessimista. Fiz análise durante anos, e não deu em nada. Meu analista ficou tão frustrado que abriu um restaurante.”
“Me lembrei de uma velha piada. O cara vai ao psiquiatra e diz: ‘Doutor, meu irmão é louco. Ele acha que é uma galinha’. E o doutor diz: ‘Por que você não o interna?’. E o cara responde: ‘Eu até internaria, mas preciso dos ovos’. É mais ou menos o que sinto sobre relacionamentos. São totalmente irracionais, loucos e absurdos. Mas nós vamos aguentando porque precisamos dos ovos.”
Trailer:
Uma das cenas que usa e abusa de recursos cinematográficos:
Início do Filme:
+MAIS:
– IMDb
– vice.com