Há 35 anos… dia 17 de novembro de 1980.
O adeus sonoro foi ao lado da companheira. Uma fantasia em dupla.
No último álbum, John conta com Yoko para cantar o recomeço do amor, o sentimento pelo filho Sean, o casamento – suas armadilhas e eternas dificuldades (os “Mind Games”!) -, o mundo e suas “rodas”, entre tantas outras belezas e tristezas. Uma partilha de letras, canções e sentimentos.
Um disco maduro, franco, positivo. Nele, há um John doce e sereno, consciente de suas escolhas, mirando o futuro. Sem messianismo, proselitismo ou qualquer outro “ismo”. Há, acima de tudo, a felicidade de uma pessoa e dos que estão à sua volta, após 5 anos de reclusão do mundo “público”.
Pouco mais de 20 dias depois, John se foi.
E as críticas negativas iniciais sobre Double Fantasy – a central, de que era uma idealização do relacionamento de John e Yoko – simplesmente desapareceram.
“Nós nunca saberemos se uma reabilitação crítica teria naturalmente ocorrido depois que as pessoas superassem o choque inicial: em primeiro lugar, pelo fato de metade do álbum de retorno de Lennon, após uma ausência de cinco anos, ter sido composta de cortes pela mulher, Yoko Ono, e, em segundo lugar, pela evidente falta de interesse de John em viver de acordo com a sua imagem anterior, de revolucionário rock’n’roll cínico.
No entanto, há de ser dito que grande parte do mundo tem uma impressão errada do conteúdo do álbum. É um registro muito, muito mais duro do que o entendido por aqueles que só ouviram ‘(Just Like) Starting Over’, ‘Beautiful Boy (Darling Boy)’, ‘Watching the Wheels’ e ‘Woman’. O pesado bombardeio disse que os cortes (todas canções de Lennon) criaram uma impressão entre aqueles que não possuem o álbum de um trabalho sonífero e desleixado, em que John deixou sua felicidade doméstica sobrepujar seus conhecidos dons descritivos e analíticos. Esta impressão faria com que vários não o comprassem – e os impediu de apreender alguma sonoridade nem sequer insinuada nas canções. A exemplo das nuances do casamento.”
Pouco tenho a acrescentar nas palavras de Sean Egan, em resenha de 2010, no site da BBC – link abaixo.
Apenas que “Beautiful Boy” é uma linda ode à paternidade, com seu arranjo de xilofones que nos remete ao Japão. “Life is what happens to you while you’re busy making other plans…”
E que “Watching The Wheels” é uma resposta poderosa aos nossos frenéticos tempos de eficiência, sucesso corporativo e pró-atividade (ô palavrinha asquerosa!).
Por fim, como dizia um adesivo que meu pai levava no carro: “Lennon Lives”.
Ô se vive!
Ouça Double Fantasy:
Fontes e +MAIS: