Há 75 anos… dia 15 de outubro de 1940.
POR MARINA MELLO*
Qual é o papel do artista?
Quantos críticos, antropólogos, sociólogos, entre outros, já tentaram dar a real resposta!?
Quando vejo novamente o filme “O Grande Ditador”, percebo que o papel do artista é ir além de qualquer conceito que permeia o bem e o mal. É não ter medo de fazer a crítica mais dura, em plena Segunda Guerra, sob a mais perfeita sátira. O papel do artista é ir além de conceitos impostos pela sociedade e, principalmente, não ter medo de barreiras políticas, mesmo quando o motivo da discórdia é um dos discursos mais emocionantes que a História já presenciou. (Charles Chaplin terminaria sendo expulso dos Estados Unidos nos anos 1950, acusado de ser comunista, justamente por causa do discurso final do filme).
O papel do artista é levantar, sutilmente, questões mais humanas, quando talvez nunca ninguém parasse para olhá-las. De fato, haveria situação mais atemporal e mundana quanto a briga de egos entre Adenoid Hynkel e Benzino Napaloni? (Quem lê o jornal todos os dias, teria a resposta). E, por mais cômico que isso pareça, quem em sã consciência acreditaria em um baixinho gritando com tanta veemência palavras de ordem? Quem acreditaria em alguém que dança e rodopia com o Mundo, como uma brincadeira de criança?
O papel do artista mais importante do século XX foi o de mostrar que a vida imita a arte, que imita a vida, e assim por diante. Somos e seremos eternamente personagens deste espetáculo. E, uma vez que a nossa viagem aqui na Terra é por vezes, passageira, a arte está aí para relembrar o quê, de fato, viemos fazer aqui.
Obrigada, Charles Chaplin, por me mostrar o mundo com o teu olhar.
* Marina Mello é cineasta. Mais do que apaixonada por cinema, é fascinada pelo poder que existe na fusão de som, texto e imagem.
“O Grande Ditador”, na íntegra e com legendas:
Fontes e +MAIS:
– IMDb