A primeira bola oval na segundona

Há 45 anos… dia 21 de setembro de 1970.

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POR RAUL ANDREUCCI*

O Monday Night Football não é apenas uma transmissão esportiva, e sim uma transmissão esportiva como parte de um grande espetáculo. Assim os americanos veem os duelos, como o próprio nome entrega, do futebol das segundas à noite, no horário nobre e em rede para todo o território nacional – um verdadeiro programa de tv, ou mesmo show, como o pessoal de lá gosta de dizer. Claro que não estamos falando daquele futebol com que nós, brasileiros, estamos acostumados (e eles insistem em chamar de “soccer”), e sim do futebol americano, da bola oval.

Parece exagero, principalmente para quem ainda não experimentou assistir ao esporte, exibido no Brasil pela ESPN, dona dos direitos do MNF desde 2006, mas a atmosfera é realmente incrível. Bem da verdade, como todas as transmissões da National Football League, a NFL, a que entidade organizada o campeonato. O Sunday Night Football, e até o recente Thursday, que o digam. Graças a essa história que começou há exatos 45 anos.

Em 21 de setembro de 1970, dia do primeiro MNF, ainda não se tinha ideia de qual seria a reação dos telespectadores. O futebol americano profissional não era nem de longe o preferido da audiência – por pouco não tivemos um Friday Night Football, descartado para não concorrer com o futebol americano universitário! – e nenhuma das três grandes redes de TV estava interessada – ninguém queria abrir mão da grade no horário nobre de segunda!

O crédito tem de ser dado, primeiro, a Pete Rozelle, NFL comissioner [o principal dirigente da liga] daquela época, que, depois da recusa de NBC e CBS, as duas de maior audiência, conseguiu convencer a American Broadcasting Company, a ABC. O cartola apostava no que tinha visto seis anos antes, quando testou um jogo na segunda, entre Green Bay Packers e Detroit Lions, alcançando o maior público do futebol profissional até então, com 59.203 pessoas no estádio de Detroit.

Para vencer a resistências dos americanos, a ABC preparou um comercial, convidando para assistir ao MNF, para lá de psicodélico, investiu também na arte e na trilha da vinheta de entrada, dobrou o número de câmeras e passou a usar designs gráficos e replays instantâneos – o que, para 1970, era incrível! Entrava aí o dedo de outro que merece destaque, o produtor do MNF, Roone Arledge.

O grande trunfo, porém, era uma dupla e todo o pacote que apresentavam. Além de análise e informação, faziam piadas, viviam se provocando e vez ou outra davam notícias bombásticas. Howard Cossel, jornalista esportivo, tinha toda a cara-de-pau necessária para o papo com famosos que entravam no ar durante a transmissão, algo relativamente frequente. Ficou notório por dar em primeira mão e em rede nacional a notícia da morte de John Lennon, em 1980 – o Beatle tinha entrado ao vivo no MNF anos antes. Seu parceiro, outra figuraça, defendeu o Dallas Cowboys como quarterback e era o palhaço da dupla. Além do conhecimento do jogo, Don Meredith fazia gracinhas a ponto de se eternizar pela versão de uma música country cantada nas transmissões. Keith Jackson completava o time.

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Da esquerda para a direita: Cossel, Jackson e Meredith 

Não à toa, o MNF tornou-se um marco, uma referência para todas as transmissões esportivas. O sucesso foi tão grande que, já em 1970, diz a lenda, as salas de cinema teriam perdido público, as ligas de boliche mudaram para terça e um hospital em Seattle tinha até um combinado entre os funcionários de não fazer partos na hora da partida. Ao longo dos anos, transformou-se num programa de família, amigos, um momento de reunião na casa de alguém ou mesmo de encontro, num restaurante, num bar – o que começa a ganhar força também por nossas bandas.

O que também ajuda o MNF é um certa pecha de que certas coisas só acontecem no MNF – existem até estatísticas específicas para os jogos das segundas-feiras, acredite. Naquele 21 de setembro, os New York Jets perderam para os Cleveland Browns por 31 a 21 [para quem quiser assistir ao duelo completo, clique aqui para a primeira parte], em Cleveland, Ohio, com um retorno de kick off de 94 jardas para touchdown de Homer Jones. Façanha que o jogador jamais repetiria na carreira.

Ao longo dos anos, o show aumentou de proporção e ganhou ainda mais em qualidade – e anunciantes, claro. Vinhetas e vídeos cada vez melhores com os astros do futebol americano, estrelas pop, músicas e sequências contagiantes; um inimaginável banco de dados e recursos tecnológicos para analisar, replays de todos os ângulos; e, como é tradição, âncoras cativantes.

Não à toa, o MNF é um dos programas de horário nobre a mais tempo no ar [está até no IMDB], concorrendo entre os campeões de audiência da TV americana. A ESPN que, como dissemos, é a atual detentora dos direitos, pagou, em 2011, dizem as fontes, algo em torno de 14 e 15 bilhões – alô-o-ô! bilhões, hem! – de dólares para continuar com a exclusividade até 2021.

Coincidência ou não, apesar de segunda ser um dia como outro qualquer, o MNF se tornou um acontecimento. E como, diferente do nosso futebol, que tem bola rolando de janeiro a dezembro, a NFL dura apenas seis meses, com 17 semanas de temporada regular [depois vem os playoffs], cada MNF tem e deve ser devidamente valorizado. Coincidência ou não, hoje à noite, uma segunda-feira, tem mais, e justamente com a presença dos New York Jets, desta vez contra os Indianapolis Colts. Ah, e na transmissão, apesar de Mike Tirito e Jon Gruden mandaram bem, recomendo os impagáveis Everaldo Marques e Paulo Antunes. A dupla que, com certeza, conquistou (e não para de conquistar) uma audiência fiel. E quando não são os dois, outros têm entrado cada vez mais no gosto do público, como Rômulo Mendonça, Ari Aguiar, Paulo Mancha e Antony Curti.

* Raul Andreucci, 30, é jornalista, corre para terminar o Mestrado, mas não abre mão das transmissões do Monday Night Football desde 2005.

Assista aqui à primeira vinheta de introdução do Monday Night Football.

Fontes:

Wikipedia – MNF

Wikipedia – MNF

ESPN – MNF

ESPN – NFL

NFL

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