Há 65 anos… dia 3 de setembro de 1950.
POR FRED SABINO*
Até 1950, os Grand Prix reuniam os melhores pilotos do automobilismo internacional, mas não havia um campeonato que coroasse o melhor competidor de cada temporada. Foi então que a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), inspirada no Mundial de Motovelocidade, criado dois anos antes, promoveu o primeiro Campeonato Mundial de Fórmula 1.
E há exatos 65 anos, a F1 conhecia seu primeiro campeão: Giuseppe Nino Farina, italiano, 43 anos, faturava o título com a vitória no Grande Prêmio da Itália, em Monza. Mas não foi uma conquista fácil.
Depois de dois meses de intervalo desde a etapa anterior, na França, Farina chegava a Monza apenas como terceiro na tabela, com 22 pontos, quatro a menos do que o líder, o argentino Juan Manuel Fangio, e dois a menos do que o vice-líder, o italiano Luigi Fagioli – os três pilotavam a feroz Alfa Romeo 158. No primeiro Mundial, apenas os cinco primeiros pontuavam (8-6-4-3-2) e o autor da melhor volta ganhava um ponto extra.
Os maiores adversários da trinca da Alfa prometiam ser os italianos Alberto Ascari e Dorino Serafini, que teriam à disposição a Ferrari 375, com motor de 4,5 litros, novinha em folha. Mas estes não tinham chances de título, já que até então a Ferrari ainda não havia ameaçado a Alfa.
Em 1950, Monza já era imponente e tinha 6.300 metros em vez dos 5.800 atuais. Isso porque ainda não existia a Curva Parabolica e a reta oposta era mais extensa, com a ligação à reta principal sendo feita por duas curvas para a direita de raio bem mais curto. Além disso, ainda não existiam as chicanes Retifilio, Roggia e Ascari. Ou seja, era praticamente pé embaixo a volta toda.
Nos treinos, Fangio conquistou a pole position com o tempo de 1m53s2, numa impressionante média de 200,353 km/h, um valor absurdo para a época – para que se tenha ideia, no ano passado Hamilton foi pole com uma média de 247,950 km/h.
Farina foi o terceiro, atrás de Ascari, mas, como o grid era formado com quatro carros nas filas ímpares e três nas pares, na prática ele largaria lado a lado com Fangio. A corrida teria incríveis 80 voltas e 504 km, muito mais do que os 310 km atuais de uma corrida. Seria, portanto, um teste para a resistência dos carros.
A largada viu Farina assumir a ponta, seguido de perto por Ascari e Fangio, na primeira vez em que uma Ferrari realmente brigava pela liderança. Mas logo as exigências da veloz pista de Monza fariam suas vítimas: Ascari parou na 21ª volta, com superaquecimento no motor, enquanto o câmbio da Alfa de Fangio abriu o bico duas passagens depois, quando o argentino era o segundo e marcava os pontos para ser campeão.
Farina, então, ficou folgado na primeira posição, enquanto Ascari pulou para o carro do companheiro de equipe Piero Taruffi e depois para o de Dorino Serafini – na época, era permitido pelo regulamento um piloto assumir carro de outro competidor da equipe e dividir os pontos entre eles.
Controlando a vantagem com perícia e sem desgastar o carro, Farina manteve sempre mais de um minuto de vantagem sobre a dupla Ascari/Serafini. O italiano da Alfa completou as 80 voltas com 2h51m17s4 para celebrar o título com 30 pontos, três a mais do que Fangio, que só marcou um pontinho pela melhor volta.
Primeiro de 32 campeões mundiais, Giuseppe Farina curiosamente seria o único piloto na história a conquistar o título em casa. Depois de vencer três provas em 1950 (incluindo a primeira da História da F1 na Inglaterra), o italiano só ganharia mais duas provas na carreira e obteria um vice em 1952. Farina deixou a Fórmula 1 no fim de 1955 e morreu em 1966, em um acidente de estrada na França.
Mas Giuseppe Farina segue eternizado como o primeiro campeão da História da mais importante categoria do automobilismo. Há exatos 65 anos.
* Fred Sabino, 34 anos, é jornalista esportivo. Trabalhou por dez anos no Grupo LANCE!, onde foi repórter, editor do LANCENET! e editor do núcleo Motor do Diário LANCE!. Desde 2012 está no SporTV, no qual trabalhou no programa “Linha de Chegada” e no Núcleo de Produção; agora é editor no “Tá na Área” e comentarista do canal.
Filme sobre o GP da Itália de 1950 (em italiano):
Fontes e +MAIS: